No capitalismo nom importam as pessoas, só os benefícios

Domingos Antom García Fernandes

No mundo religioso Deus adquire os atributos do homem. Sob o capitalismo as pessoas desaparecem, apenas os lucros importam. A respeito do fetichismo da mercadoria e a mistificaçom capitalista.

Vamos começar cuma citaçom de O Capital de Karl Marx: “… Para encontrar uma analogia temos que voltar as regions enevoadas do mundo religioso. Nesse os produtos da mente humana parecem figuras autônomas, dotadas de vida própria (…). O mesmo acontece no mundo das mercadorias com os produtos da mão humana. Eu chamo a isso fetichismo…”. 

Que acontece no mundo da Religiom? Que o sujeito, o ser humano, produz o predicado, o ser divino. O homem nom é à imagem e semelhanza de Deus, mas ao contrário: Deus é construído com características antropomórficas. Portanto há uma inversom, a realidade está de cabeça para baixo. Um Deus, criatura, tansforma-se em criador e o homem começa a adorar, fetichismo (magia, artifício, também ornamento ao que se outorgam propriedades sobrenaturais), aquela fantasia de seu cérebro. Deus incorpora os atributos do homem e o homem fica sem atributos. E que acaece no capitalismo? Que o produto, a mercadoria, ocupa o lugar do produtor, isto é, o predicado, a mercadoria, subsume seu criador, o trabalhador. O capitalismo reifica, cousifica tudo. As pessoas desaparecem, só os benefícios importam. O produtor adora o produto e se torna mais um produto. Nas fábricas nom há pessoas, apenas máquinas ao serviço do Capital. Dança-se ao ritmo da mercadoria da mesma forma que na religiom ao da divindade. Vai-se concretar um pouco mais tal fetichismo e também a mistificaçom, que é umha forma especial de aparência, é para manter o mistério, para esconder…

As formas de fetichismo em Marx seriam o fetichismo da mercadoria, o do dinheiro e o do capital. Quanto ao primeiro as mercadorias passam a ser, nas palavras do próprio Marx, <<cousas sensivelmente supersensíveis ou sociais>>, isto é, que os produtos do trabalho humano, bens sensíveis e inertes, transformam-se na única realidade, as pessoas se juntam ao produto, consubstanciam-se em produtos, som despersonalizadas… O fetichismo do dinheiro é, di Marx, “… apenas o mistério do fetiche da mercadoria tornado visível e deslumbrante diante dos olhos”, quer dizer, que a magia do dinheiro é a invençom duma aparência objetiva a partir das relaçons de produçom. O dinheiro, equivalência à troca de produtos, é substancializado, ganha vida própria, torna-se autónomo, muda-se em fetiche… E o fetichismo do capital reside na metamorfose num poder social autônomo, um poder dos capitalistas enfrentando a sociedade. O que os trabalhadores parciais perdem concentra-se diante deles em forma de Capital. O Capital é aquele Deus absoluto a quem tudo se curva e que abole as pessoas.

E agora transfire-se ista concreçom para a mistificaçom do Capital e as suas formas. Quando se ouve o de <<fazer que o teu dinheiro trabalhe para ti>>, leva à crença, ao feitiço, de que o dinheiro sozinho ganha mais dinheiro. E assim parece, claro, para aquiles que o possuem. No entanto é uma questom de aparência. A verdadeira realidade do capital é opaca: um mundo invertido, fetichismo, e um mundo ensombrado, mistificaçom. Vai-se desvendar um pouco isse mistério, issa mistificaçom, isse “quid pro quo” (algo que substitui outra cousa), issa maçada, isse nom descobrir a verdadeira face do Capital. E do mesmo modo em forma triádica: mistificaçom de salários, de lucros e de aluguel da terra. A mistificaçom do salário reside na transformaçom do préço em valor, onde o trabalhador nom é uma pessoa, mas força de trabalho, máquina, utensílio… Esconde-se a realidade efetiva – a inversom, já se disse, converte as pessoas em cousas, em produtos… Invertir é virar-se no oposto do que se é. E mistificar é cobrir, disfarçar a realidade autêntica – . A mistificaçom do salário consiste em que a sua forma de manifestaçom (preço do trabalho) invisibiliza a relaçom real: o preço da força de trabalho. E isso leva-nos a falar de mais-valia, de tuda uma série de horas de trabalho nom remunerado, que redunda no lucro do empregador. O salário nom paga o valor do trabalho vivo realizado. Tudo trabalho está listado como remunerado, mas nom é assim, porque existe um trabalho apropriado e nom retribuido. O trabalho pagado contém um nom-equivalente, um plus de trabalho nom recompensado… No que diz respeito à manifestaçom do lucro deve-se notar que o trabalho está oculto como uma fonte real de mais-valia e aparece como fruto de tudas as partes do Capital: de capital fixo ou ativos imobilizados (terrenos, edifícios, máquinas, finanzas); do variável (força de trabalho), et cetera. O investimento em máquinas, locais, terrenos, dinheiro…, serve de justificativa para guardar, mascarar, tapar, a exploraçom do trabalhador. Escreve Marx: “… com o capital que rende juros aperfeiçoa-se isse fetiche automático, o valor que se valoriza, sem aparecer dista forma as cicatrizes de sua origem”. E o que dá incumbência à mistificaçom da renda da terra, a mais-valia manifesta, patente, sob a aparência de aluguel ou preço do terreno… Tem parecença de que issa mais-valia brota por geraçom espontânea do <<solo natural>> em vez de a atribuir a horas de trabalho nom  pagadas. A mistificaçom da renda da terra refina e abriga tudas as formas mistificadas: salário, lucro, juros…

Muitos acreditam que o capitalista tem o direito de se beneficiar e exibem os motivos mais extranhos, mesmo sem motivo, já que sua figura é naturalizada. E o trabalhador, nom-pessoa, ele é também uma figura naturalizada. Cai-se no fatalismo, na inevitabilidade. Marx viaja para as entranhas do Capital: a reificaçom e o encantamento. O trabalhador regista-se na contabilidade capitalista como um parafuso, uma roda ou um motor… O capitalismo camufla e enterra a extorsom continua (capital-juros//terra-renda do solo//trabalho-salário), o trabalhador, e seu fazer, está desconetado da terra e do capital. Os rendimentos do terratenente e os lucros do capitalista som separados do trabalho da força de trabalho, figuras que som interdependentes tornam-se autónomas.

O capitalismo nega sistematicamente a socialidade, ou milhor, o social identifica-se com o valor de mercado. Evaporiza-se o valor dos produtos do trabalho humano para os reduzir a valor de troca. O humano é relegado. Há uma cegueira epistémica, porque a terra é lançada sobre a exploraçom estrutural, a desapropriaçom sistemática do produtor. E se isso nom bastasse, passa-se a desistorizaçom, a considerar, niste caso, as relaçons burguesas como eternas e imutáveis. Agora é hora de questionar as grandes ideologias ligadas ao capitalismo: filosofias da história, teleologias, a ideia de progresso… Tempo também de abandonar a ideia bíblica, e nem tanto, de paraíso perdido e terra de promissom.

       Domingos Antom Garcia Fernandes

Domingos Antom

Domingos Antom

Profesor de filosofía

Domingos Antom Garcia Fernandes, nasceu em Hermunde-Pol, na Terra Chá, a 21 de Janeiro de 1948. Freqüentou dez anos de estudos eclesiásticos no Seminário Diocesano de Lugo. Mestre de Primeiro Ensino pola Escola Normal de Lugo, licenciado e doutor em Filosofia pola USC. Foi professor de EGB e catedrático de Filosofia no Ensino Secundário. Membro fundador da Aula Castelao de Filosofia, da qual foi porta-voz e coordenador e na atualidade Membro de Honra. Foi professor de Antropologia Geral, História da Antropologia e Antropologia Económica na UNED de Ponte Vedra. Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2011, na docência da matéria de Ética e deontologia da comunicaçom audiovisual. Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2018, na matéria de Sociologia: Sociedade, Cultura e Pensamento. Foi Presidente de Amig@s da Cultura de Ponte Vedra. 

Professor de Filosofia e de Ética no Graduado Universitário Senior da Universidade de Vigo. Imparte um curso de Filosofia, de carácter anual, na Biblioteca Pública de Ponte Vedra. 

Co-autor de Antom Losada. Teoria e Praxis (1984), Reflexons sobre a vida moral (1995), A Ética na que vives (1995). Coordenador de Para umha Galiza Independente. Ensaios, testemunhos, cronología e documentaçom histórica do independentismo galego (2000). Co-participante en diversas colectâneas.

Participou como relator ou comunicador em numerosos congressos e jornadas com temas como a filosofía marxista, os NMSA, o estatuto e as funçons da Filosofia, a problemática nacional em relaçom com a questom ecológica, et cetera. Colaborou em diferentes jornais e revistas e prologou diversos livros. Foi colaborador assíduo da publicaçom trimestral Abrente e da Abrente Editora, além de colunista de Primeira Linha em Rede, de Diário Liberdade e de kaosenlared.net.

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