O comunismo como sistema, ou modo de produçom, nom fracassou, porque endejamais existiu

Domingos Antom García Fernandes

Para nom tornar banal o comunismo. Notas para uma palestra seguida de discussom.

Nota bene: a extensom limitada diste artigo só me permite oferecer delineaçons e algumas notas bibliográficas, que na conferência-coloquio seriam explicitadas e ampliadas.

Marx en el país de los soviets. O los dos rostros del comunismo. Eis o título, em traduçom espanhola, dum livro de Emmanuel Barot, no que reivindica um concebimento dialético do comunismo em Karl Marx,

pois nom é apenas um objetivo ou ideal a ser conquistado (uma associaçom de homens livres numa sociedade igualitária), mas, como escreve em A Ideologia Alemã (1846), é o movimento real que busca abolir o estado de cousas atual. Assim mesmo resgata a hipótese estratégica de ditadura do proletariado, baseada na democracia proletária e na independência de classe. Para ter mais novidades diste livro recomenda-se a resenha em Contretemps-revue de Critique Communiste e a de Juan Dal Maso em El comunismo no es una idea-La Izquierda Diario.

¿Fue un sistema socialista? ¡En absoluto! Velaí a designaçom dum extenso artigo de Denis Paillard em iquierdaweb.com no que comenta em detalhes um livro de Moshe Levin: Rusia/URSS/Rusia. Diste artigo, apenas a seçom primeira, Que é a URSS?, será incorporada aquí em versom livre e sucinta. Foi a URSS um pais comunista? Para a burguesia, os seus ideólogos e historiadores, URSS=Comunismo=Stalinismo=Gulag. Outros, e nom catalogados precisamente como burgueses, pensam que o comunismo foi realizado apenas na época de Stalin. Há alguns que defendem a teoria do capitalismo de Estado e afirmam que nom se pode chamar socialismo a um regime opressor dos trabalhadores. Roger Martelli opina que a URSS foi a forma dominante de comunismo no século XX. Trotsky fala dum Estado obreiro burocraticamente degenerado. Y Moshe Levin defende a tese de que a história da URSS nom é linear, está feita de continuidades e discontinuidades, de dinamismos e de crises. E assim mesmo argumenta com contundência que a URSS nom foi um pais socialista.

La wertkritik y el <<socialismo real>> en la Unión Soviética é um artigo de Augusto Germán Rehfeldt no que estuda a <<crítica do valor>> – de modo principal em Moishe Postone, Robert Kurz e Anselm Jappe – onde chega, entre outras, às seguintes conclusons: uma superaçom do capitalismo nom passa escassamente polo modo como os indivíduos ou grupos se apropriam da distribuiçom, mas também pola maneira como as categorias de mercadorias, dinheiro, trabalho abstrato, et cetera, funcionam nas esferas da produçom e como mediaçom social; a economia soviética continha as referidas categorias em maior ou menor grau, o que leva a conclusom de que a URSS é outra variante do modo de produçom capitalista; uma visom transhistórica do trabalho, num imenso território subdesenvolvido, que incide em açom totalizante e repressiva numa variedade de esferas, particularmente na produtiva e nas que o Partido-Estado assumiu o rol condutor.

La teoría de la revolución permanente (compilación). Prólogo. O livro reúne textos fundamentais de Trotsky (brochuras, livros, artigos, cartas e discursos) desde 1904 até o seu assasinato em 1940 e basta uma olhadela ao sumário para perceber como a teoria se torna com o passar do tempo mais extensa, poliédrica e mundial – as suas origens, a onda expansiva da revoluçom rusa, a luta em contra do socialismo num só país, a revoluçom chinesa e a geralizaçom da teoria a países atrasados, a vigência e atualizaçom da teoria noutros países (Espanha, Itália, Índia, as teses sudafricanas) – . E o prólogo é uma atinada apresentaçom da mesma. Um bom modo de acessar ao pensamento global de Trotsky e à questom fulcral do mesmo: a revoluçom permanente (nom sobraria, como complemento do anterior, ler algo, ou milhor o livro inteiro, a respeito de A revoluçom traída, escribido no 35-36 e publicado em 1937, tres anos antes de ser assasinado, onde analisa polo miúde o Estado soviético, a degeneraçom burocrática, os ziguezagues da política e a tergiversaçom da teoria marxista para a pregar às necessidades da política).

¿Por qué el comunismo resulta<<insoportable>>?. Más allá de la economía libidinal. Título dum artigo de Juan Duchesne-Winter onde comenta um livro de Keti Chukhrov: Practicing the Good: Desire and Boredom in Soviet Socialism. Escreve que a relativa ausência de preparaçom da sociedade para o cámbio que se produciu responde a que foi muito rápido e completo, o que libertou à nova sociedade da cárrega do desejo, é dizer, da economia libidinal capitalista, pois a economia nom libidinal surge da aboliçom da propriedade privada. E apontar também que Chukrov nom adjudica a Kolontái o tópico da liberaçom sexual ostentado polo feminismo liberal ocidental… E quando alguém do auditório, numa apresentaçom do livro, se alterou um tanto por considerar que a conferencista estava a embelecer a experiência soviética recebeu uma resposta algo assim como: “Tranquilo, nom somente amas ti o capitalismo, tudos amamos aquí o capitalismo, nom te preocupes.” E o comentário do autor do artigo interpreta diste jeito issas palavras: “uma ironia que com obviedade encerrava um reproche enigmático”.

El decrecimiento no es ninguna solución. Título dum artigo publicado em janeiro de 2021 por Maxi Nieto na revista Disyuntiva. Critica a teoria eco-socialista do decrescimento, pois considera que a causa última dos problemas de excessos ambientais nom é o crescimento em abstrato, mas a cega lógica económica capitalista que o  rege; que fai recaír sobre a classe operária o custo da reconversom ecológica e impede o aproveitamento das inormes capacidades científicas e técnicas acumuladas pola humanidade; e que, entre outros motivos, acaba por aceitar a mesma produçom mercantil que está por trás da degradaçom ambiental. Termina a escrita com istas palavras: “nunca antes a necessidade de substituir o mecanismo obsoleto do mercado e da propriedade privada polo planejamento econômico e da propriedade social dos meios de produçom se tornou mais evidente do que hoje”.

Pensar o comunismo com Lucien Sève. Em Penser avec Marx aujourd’hui, Tome 4, “Le communisme”? Premiére partie – a segunda parte do livro, em preparaçom, abordará a questom de que comunismo para o século XXI, infelizmente o autor morreu de COVID-19 o 23 de março de 2020, mas aguarda-se que seu filho Jean Sève possa concluir a tarefa – fai-se ista pergunta: quando as catátrofes que nos ameaçam a curto prazo por um capitalismo louco nos convocam a inventar outra civilizaçom, será que um comunismo inteiramente repensado para o nosso tempo volta a ser o nome invejável do futuro? É o que argumenta niste livro, un estudo erudito e vivo da gênese e do conteúdo do objetivo comunista no século XIX e a vista disso uma história crítica implacável do que aconteceu no século XX torna ista conclusom óbvia: o que falhou dramaticamente no século passado sob o seu nome usurpado, longe do comunismo de Marx entom historicamente prematuro, foi na verdade, por iniciativa de um Stalin traiçoeiro às esperanças nascidas em 17 de outubro, um nacional-estatismo brutal para alcançar o capitalismo ou lançar a Rússia e sua continuaçom em outros países relativamente atrasados em desenvolvimento. O próprio sentido da história vivida nestes dous últimos séculos muda completamente aquí: o comunismo em seu verdadeiro sentido nom etá atrás de nós, mas à nossa frente. Para conhecer milhor iste livro, e também a filosofia do autor, estaria bem ler em “Le club de Mediapart” o artigo de Yvon Quiniou: Le renouveau de l’idée communiste selon Lucien Sève; também a entrevista publicada em L’Humanité (08-11-2019): Le <<communisme>> est mort, vive le communisme; assim mesmo o artigo publicado em Cause Commune nº 14-15, Janvier-Février 2020 por Florian Gulli: Le communisme de Lucien Sève; e finalmente o balanço que fai Isabelle Garo, na revista contretemps, da filosofia de Lucien Sève: Mort d’un philosophe communiste aux temps du choléra neoliberal. Hommage à…

Communisme et strategie título do último livro de Isabelle Garo no que assevera que está de volta a questom comunista e que iste interesse renovado vai acompanhado dum estranho abandono da estratégia política. As filosofias críticas prosperam e proliferam, mas, repregadas no eido académico, semelham desconexionadas das questons concretas levantadas pola presente crise do capitalismo, contribuindo em troca para a fragmentaçom das resistências que se oponhem a ela. Ao contrário da tendência que condena a perspectiva de emancipaçom aos registos da utopia e da nostálgia, outrossim contra o entusiasmo que pode ser despertado por uma opçom <<populista>>, alheia às suas renúncias, Isabelle Garo analisa niste ensaio as condiçons para um relançamento contemporâneo da alternativa. Ao contemplar os problemas com os que se enfrentam muitos dos pensamentos radicais – o Estado, o partido, o trabalho, a propriedade, o disenso, a hegemonia… – ela os reinviste com inspiraçom em Marx e em Gramsci num processo que fai da questom estratégica o coraçom das articulaçons a serem inventadas entre a análise teórica e a intervençom em política. O livro consta de uma introduçom, seis capítulos e uma conclusom. A Introduction: l’alternative em miettes pode-se descarregar em  a revista contretemps. O primeiro capítulo ocupa-se de Alain Badiou, que preserva a ideia de comunismo como motor revolucionário na ausência de processos revolucionários reais. O segundo é um debate com Ernest Laclau a respeito da proposta política de <<radicalizaçom>> da democracia e a sua defesa do populismo (a autora critica a excessiva importáncia reivindicada para a liderança e a secundarizaçom da exploraçom de classe). No tres disputa com Toni Negri e Michael Hart e acusa-os de embelezar o progresso capitalista e disolver a classe obreira no termo ambíguo de multidom; assim mesmo censura em Dardot e Laval os limites dum cooperativismo anti-estatalista e cair em posiçons reformistas. No quarto examina as origens do comunismo no movimento obreiro francês e comunismo nos textos do Marx jovem. Será no quinto onde se ocupe do Marx maduro e do Marx tardio para no sexto e último se aplicar às condiçons de reconstruçom hoje duma alternativa ao capitalismo sob iste ángulo estratégico, preferentemente que programático. Hà uma revisom de muito interesse, e mesmo con algumas críticas e ampliaçons em Juan del Maso: Marx, el comunismo como estrategia em La Izquierda Diario. Também se recomenda ler atentamente em zones-subversives.com: Penser la stratégie communiste.

Devemos ir ao ponto final, mas nom sem deixar de destacar que o comunismo nom falhou, como asseveran os neoliberais e mesmo uma boa parte dos que se consideram de esquerda, e nom o fez, pois nunca existiu como sistema ou modo de produçom específico. Dizer, e já se conclui, que articular a luta de classes, com a luta ecológica, com as lutas em contra de colonialismos, racismos, sexismos…, lutar pola igualdade é caminhar por vieiros comunistas.

       Domingos Antom Garcia Fernandes

Domingos Antom Garcia Fernandes

Domingos Antom Garcia Fernandes

Profesor de Filosofía

Domingos Antom Garcia Fernandes, nasceu em Hermunde-Pol, na Terra Chá, a 21 de Janeiro de 1948. Freqüentou dez anos de estudos eclesiásticos no Seminário Diocesano de Lugo. Mestre de Primeiro Ensino pola Escola Normal de Lugo, licenciado e doutor em Filosofia pola USC. Foi professor de EGB e catedrático de Filosofia no Ensino Secundário. Membro fundador da Aula Castelao de Filosofia, da qual foi porta-voz e coordenador e na atualidade Membro de Honra. Foi professor de Antropologia Geral, História da Antropologia e Antropologia Económica na UNED de Ponte Vedra. Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2011, na docência da matéria de Ética e deontologia da comunicaçom audiovisual. Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2018, na matéria de Sociologia: Sociedade, Cultura e Pensamento. Foi Presidente de Amig@s da Cultura de Ponte Vedra. 

Professor de Filosofia e de Ética no Graduado Universitário Senior da Universidade de Vigo. Imparte um curso de Filosofia, de carácter anual, na Biblioteca Pública de Ponte Vedra. 

Co-autor de Antom Losada. Teoria e Praxis (1984), Reflexons sobre a vida moral (1995), A Ética na que vives (1995). Coordenador de Para umha Galiza Independente. Ensaios, testemunhos, cronología e documentaçom histórica do independentismo galego (2000). Co-participante en diversas colectâneas.

Participou como relator ou comunicador em numerosos congressos e jornadas com temas como a filosofía marxista, os NMSA, o estatuto e as funçons da Filosofia, a problemática nacional em relaçom com a questom ecológica, et cetera. Colaborou em diferentes jornais e revistas e prologou diversos livros. Foi colaborador assíduo da publicaçom trimestral Abrente e da Abrente Editora, além de colunista de Primeira Linha em Rede, de Diário Liberdade e de kaosenlared.net.

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