Num tempo em que a evolução da humanidade parecia ter alcançado um patamar, nunca atingido, deparamo-nos com a loucura, a insensatez, a ânsia de poder ou a ânsia de viver, saboreando o doce e o amargo dos dias impensáveis, das noites escuras, das trevas e da maldade.
Segundo Hegel, “a loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente”, afirmando, ainda que “só seria humano quem tivesse a virtualidade da loucura”!
Afinal, quem são os loucos dos nossos tempos? Como conseguiremos desvendar o que separa a razão da loucura?
Talvez seja um caminho demasiado complicado para o podermos desvendar. Passemos a factos concretos dos nossos dias e veremos se razão e loucura estão no mesmo patamar, se se entendem ou se ficam em extremos opostos.
Quando se imaginaria que as leis e regras internacionais seriam cumpridas rigorosamente, por todos os povos, porque na sua elaboração, todos ou uma maioria concordou com elas, verificamos o quê?
Aquilo que, num determinado momento, é aceite e assinado como compromisso de honra, pode tornar-se letra morta e os interesses de uns espezinham os interesses dos outros, quando lhes convém, sem se importarem com os danos que podem causar e sofrer, também, com essas atitudes postas em prática.
Passaram oito meses, longos dias de ansiedade, sofrimento, morte e destruição provocados por uma invasão a um território soberano, reconhecido, tanto pela comunidade internacional como pelo invasor que, pela segunda vez, em oito anos, transgride os acordos estabelecidos, tendo ocupado em 2014, a Crimeia e o Donbass, porque a ânsia de poder, o desejo louco de reconstituir o antigo império russo, lhe domina a mente, lhe ofusca a razão e distorce a realidade dos tempos.
O seu grande sonho é destruir a Ucrânia, nem que, para o conseguir, tenha que sacrificar a vida da juventude russa, contrate mercenários, cause fome no mundo, minta e calunie.
Uma triste realidade, sem fim à vista.
Agora, vamos olhar para as pequenas loucuras dos pobres mortais que se atropelam para festejar tradições.
Refiro-me à Festa de Halloween!
O Halloween, chamado de Dia das Bruxas, é uma festa com temas sombrios e comemorada anualmente, em 31 de outubro. Os mais novos sabem tudo isto, mas os mais idosos, talvez não conheçam a origem desta tradição que aqui vos vou contar.
A palavra Halloween é uma abreviação da expressão All Hallows’ Eve pela junção das palavras hallow, que significa “santo”, e eve, que significa “véspera”, pois ocorre no dia anterior à celebração do Dia de Todos os Santos.
A origem da festa do Halloween tem uma grande trajetória, visto ser praticada há mais de 3 mil anos.
Surgiu com os celtas, povo politeísta, que acreditava em diversos deuses, relacionados com os animais e as forças da natureza.
Os celtas celebravam o festival de Samhain, que tinha a duração de 3 dias, com início no dia 31 de outubro. Nesse festival, além de se comemorar o fim do verão, comemorava-se a passagem do ano celta, que tinha início no dia 1 de novembro.
Segundo as suas crenças, pensavam que nesse dia, os mortos se levantavam e se apoderavam dos corpos dos vivos.
Por esse motivo, usavam fantasias e a festa era recheada de enfeites horrorosos, com o intuito principal de se defenderem dos maus espíritos.
Durante a Idade Média, a Igreja começou a condenar o evento, e daí surgiu, então, o nome “Dia das Bruxas”.
Durante a época medieval, os curandeiros eram considerados bruxos e por se posicionarem contra os dogmas da Igreja, muitos foram queimados na fogueira.
No intuito de afastar o caráter pagão da festa, a Igreja promoveu alterações no calendário, de forma que o Dia de Todos os Santos passou a ser comemorado no dia 1 de novembro, o que antes acontecia no dia 13 de maio.
Nos Estados Unidos, a tradição do Halloween é muito forte. Foi levada por imigrantes irlandeses, no século XIX. Desde então, a festa tornou-se um sucesso.
As crianças usam fantasias e batem nas portas das casas dos vizinhos, dizendo a tradicional frase: “doce ou travessura?” A brincadeira consiste em pedir doces, ameaçando cometer uma travessura a quem negar as guloseimas.
Na verdade, em todo o mundo a moda “pegou”. Nós não somos exceção, nem a Coreia, infelizmente, onde há a lamentar tantas mortes e feridos, triste ocorrência, na celebração da referida festa.
As casas e as ruas ficam decoradas com temas sombrios, tais como: bruxas, caveiras, múmias, vampiros, fantasmas, etc. Uma das marcas mais emblemáticas da festa são as grandes abóboras, com rosto e com velas dentro.
Atualmente, a comemoração possui um grande valor comercial e a data é feriado nos Estados Unidos.
Por aqui, até me pareceu que não há crise nenhuma. As lojas dos chineses tinham filas enormes para pagamento de acessórios para a grande noite “Das Bruxas”.
Para além dos Estados Unidos, a festa foi difundida por diversos países do mundo, tendo forte tradição no Canadá e no Reino Unido.
Entre nós, a tradição toma força.
O pedido de doces, porta a porta, pelas crianças, está relacionado com a antiga tradição celta. Para acalmar os espíritos maus, as pessoas ofereciam-lhes comida. As mulheres celtas faziam um bolo chamado de “bolo da alma”, que entre nós se chama, ainda hoje, “Pão por Deus”.

Em Portugal, as celebrações perderam-se um pouco, ao longo dos anos, mas há algum tempo atrás, as crianças juntavam-se pela manhã, para ir batendo de porta em porta, a pedir pelos ‘santinhos’ e pela alma das pessoas que já morreram. Levavam uma bolsa de pano e recebiam o que as pessoas podiam dar: dinheiro, maçãs, castanhas, rebuçados, nozes, bolos, chocolates, etc.

Este costume perdeu-se bastante, porque os pedidos eram feitos por necessidade, devido à miséria que havia em Portugal. Nas casas abastadas, a mesa era posta com o que os donos tinham de melhor para comer e beber e quando os pedintes batiam à porta eram convidados a entrar e a sentar-se.
Em Castelo de Vide, as crianças que pediam, entoavam esta ladainha:
“Senhora! Dê-nos os Santos, por alma dos seus defuntos! Lá estará na Santa cruz, p´ra sempre, ó Jesus!”
Quando as pessoas não davam nada, a canção tinha a mesma melodia, mas a letra era diferente.
Em Niza, o ritual era o mesmo, mas a intenção era fazer os pedidos aos padrinhos:
“Dê-me a sua bênção, padrinho!”
Os padrinhos respondiam:
“Deus te abençoe e te faça um santinho!”
Davam aos afilhados alguns bolos, os chamados, “santinhos” em forma de lagartos e de bonecos, com ovos e dinheiro.
Bolo típico desta festividade é o chamado “Santoro”, de forma comprida e que se dá aos pedintes ou amigos, em dia de Todos os Santos ou de Finados. Este feriado é ainda aproveitado para o arranjo das campas dos cemitérios com vista à celebração do dia de Finados.
A tradição da vela dentro da abóbora, que entre nós também já se volta a praticar, vem do folclore da Irlanda e está relacionada com a figura de “Jack da lanterna”. No entanto, na história original, a abóbora era um nabo.
Jack era um bêbedo que, enganando o diabo, conseguiu escapar ao inferno. Mas ao morrer, Jack não foi aceite no céu. Então, a sua alma passou a vaguear pelas noites, usando uma lanterna para iluminar o caminho. A lanterna era feita com um nabo.

Tal tradição verifica-se também na Península Ibérica e é muito antiga, tendo no nosso país exemplos conhecidos na zona do distrito de Coimbra, na Beira Alta e no Minho. Provavelmente estendeu-se, em tempos, a Trás-Os-Montes e até a algumas zonas Alentejanas.
Mundo de loucuras? Estas loucuras não prejudicam ninguém!
Talvez, quem não as pratique, não conheça o prazer de ser louco, brincando!

Graça Foles Amiguinho
Colaboradora Portuguesa
“Son Maria de Graça Foles Amiguinho Barros. Vivo en Vila nova de Gaia, pero nascín no Alentejo, nunha aldeia pequena chamada A Flor do Alto Alentejo.
Estudei en Elva. Fiz maxisterio en Portoalegre. Minha vida foi adicada ao ensino durante 32 anos, aos meus alumnos ensineilles a amar as letras, o país, as artes e a cultura.
Meu começo coa poesia aconteceu de xeito dramático cando partin os dous braços, en 2004 comecei a escribir poesia compulsivamente, en 2005 xa tiña o primero libro editado O meu sentir…”
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