Toda a natureza se enfeita de cores e perfumes para festejar este tempo de alegria. A Ressurreição de Jesus Cristo é a festa maior do calendário religioso católico. Por todo o Alentejo se une o religioso ao profano nas mais diversas manifestações de confraternização entre famílias e amigos. As cerimónias de religiosidade têm grande expressão nos grandes centros urbanos. Associado a esse encontro de cariz espiritual e de manifestação de fé, está, como é natural, o sentar à mesa para degustar os pratos gastronómicos que caracterizam, de uma maneira muito especial, a tradição da nossa região!

Folar-da-Pascoa
folar de pascoa doce

Em Elvas, na segunda-feira de Páscoa, é tradição, os elvenses irem até à Ajuda, situada nas agradáveis margens do Rio Guadiana, onde não falta, no farnel preparado cuidadosamente, o borrego assado e os famosos «bolos fintos» A razão do seu nome deriva do facto de a massa de que são feitos ter de ficar a levedar (fintar) de um dia para o outro. Estes «bolos fintos» têm longa tradição na doçaria regional. Destinavam-se a ser oferecidos pelos padrinhos aos afilhados, na altura da Páscoa e, em tempos remotos, nos casamentos, os noivos ofereciam estes bolos aos convidados como sinal de alegria pela sua presença na cerimónia. Se nunca os provou, sugiro que os procure em Santa Eulália, onde hoje são vendidos diariamente. Ficará surpreendido com o seu agradável e diferente paladar devido à presença de erva-doce e canela no seu fabrico.

São uma espécie de «folar», embora menos secos. O «folar» é, na verdade, outro bolo tradicional do Alentejo no qual se incluem ovos inteiros dentro da massa tendida, à qual se dão as mais diversas formas: lagartos, bonecas, cestas, etc. A inclusão dos ovos representa a fecundidade, a abundância, a renovação periódica da natureza. São famosos os «folares» de Castelo de Vide e de Barbacena. Além de serem oferecidos pelos padrinhos aos afilhados, também eram trocados entre os «compadres» (pais do noivo e da noiva) e as «comadres» (mães do noivo e da noiva). Estão a cair no esquecimento por isso é preciso divulgar e preservar a receita original.

Pascoa

Voltando aos tradicionais festejos da Páscoa, vou referir alguns lugares do nosso Alentejo onde as populações continuam mantendo os seus costumes. Na Vila de Campo Maior, na segunda-feira de Páscoa, há momentos de grande religiosidade e convívio fraterno. O povo vai até ao Rio Xévora, ao Santuário de Nossa Senhora da Enxara, a poucos quilómetros de Ouguela. Muita gente aí acampa, dias antes. Fazem uma procissão em honra de Nossa Senhora e os festejos terminam com um sorteio muito especial! É sorteada uma bezerra, um borrego, um leitão e um presunto! Em Santa Eulália, a confraternização da Páscoa – «passar as águas», começa na sexta-feira a seguir à Páscoa e prolonga-se durante três dias! É uma grande festa para toda a população! Dirige-se grande multidão ao monte da Almeida Nova, junto à barragem do Caia e aí fazem um acampamento em verdadeiro espírito comunitário com o apoio da Junta de Freguesia. É oferecido, pela Junta, a toda a gente, o delicioso ensopado de borrego, animação musical e até há tourada à vara larga. Novos e velhos aproveitam estes belos dias e, se as águas estiverem convidativas, até nelas se dá um mergulho! Em Barbacena, a população vai até à Senhora da Lapa, leva o farnel, confraterniza, canta e dança! Em Sousel, igualmente na segunda-feira de Páscoa, se faz a Romaria secular em honra de Nossa Senhora do Carmo. Não falta o cabrito assado, o ensopado de borrego, as «costas» e o pão feito no forno de lenha. A serra de S. Miguel é invadida e, à sombra das oliveiras, são estendidas as toalhas e ali se faz o piquenique. É este o retrato da nossa região, da nossa planície Alentejana, da sua encantadora paisagem, do seu clima ameno, das nossas gentes, das nossas tradições religiosas e profanas que procuramos manter e dar a conhecer ao mundo, na certeza de que há aqui um lugar onde todos encontrarão um pouco de paz sob um céu azul, de uma beleza incomparável.

Graça Foles Amiguinho

Graça Foles Amiguinho

Colaboradora Portuguesa

“Son Maria de Graça Foles Amiguinho Barros. Vivo en Vila nova de Gaia, pero nascín no Alentejo, nunha aldeia pequena chamada A Flor do Alto Alentejo.

Estudei en Elva. Fiz maxisterio en Portoalegre. Minha vida foi adicada ao ensino durante 32 anos, aos meus alumnos ensineilles a amar as letras, o país, as artes e a cultura. 

Meu começo coa poesia aconteceu de xeito dramático cando partin os dous braços, en 2004 comecei a escribir poesia compulsivamente, en 2005 xa tiña o primero libro editado  O meu sentir…”

Envelhecer con dignidade

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