A RESPEITO DE EVA ILLOUZ: COMO O AMOR ACABA NO CAPITALISMO TARDIO

Domingos Antom Garcia Fernandes

A RESPEITO DE EVA ILLOUZ: COMO O AMOR ACABA NO CAPITALISMO TARDIO. UMA SOCIOLOGIA DAS RELAÇONS NEGATIVAS. SOBRE O TRÁFEGO COMERCIAL DAS RELAÇONS ÍNTIMAS.

O título anterior será objeto de explicaçom e debate, o dia 27 de abril, na aula aberta de filosofia que se está a realizar semanalmente na Biblioteca Pública de Pontevedra. E pareceu interessante transferir algumas ideias-chave para os leitores da devellabella.

Para informaçons mais detalhadas anexa-se um arquivo com algumas leituras sugeridas aos participantes dissa conferência-debate, que figuram assim  mesmo na página web do Curso de Filosofia da devandita Biblioteca.

A seleçom, que cabe aquí, começará por a reinvençom do amor segundo Alain Badiou, continuará com o que Eva Illouz  entende desde a sociologia como tráfego comercial com relacionamentos íntimos e concluirá com o fim do amor em Tamara Tenenbaum 

Reinventar o amor para o defender da sua domesticaçom na sociedade atual.

Alain Badiou

Do livro de 31 páginas, com bastantes espaços em branco, Elogio del amor, será destacado o capítulo II, intitulado Los filósofos y el amor, de algo mais de 3 páginas.

Para Badiou Arthur Schopenhauer seria o filósofo mais incendido do anti-amor, que nom perdoa às mulheres por terem tido a paixom do amor e perpetuar assim a espécie humana que nom vale nada. E na outra ponta situa a Kierkegaard por enraiganhar a experiência amorosa na sua proveniência divina e considerar o matrimónio como um meio para aceder ao suprahumano. E aprecia em Platom que considere a experiência amorosa como uma semente de universalidade, um conhecer desde a diferência, um caminhar da singularidade à ideia de Beleza. E recorda a Lacan quando dizia que na sexualidade o corpo do outro é uma mediaçom para o prazer de um, o que conduz a uma realidade narcisista e um vínculo imaginário; e seria no amor onde o sujeito vai além de si mesmo.

Também alude a tres posiçons que iriam em contra da sua escolha: a construçom da verdade. Seriam a romántica, que se centra na êxtase do encontro; a comercial ou jurídica que o muda num contrato; e a céptica que o ve como algo ilusório.

Tampouco concorda com Lévinas e as suas ruminaçons teológicas, pois no fundo é a vingança do Um contra o Dous.

Em Página 12, numa entrevista com Eduardo Febbro, “La felicidad es una idea fundamental”, ao falar do amor refire-se a issa parte da humanidade nom entregue à competiçom, a selvageria…, o amor implica confiança e torna-se em prova de que o ódio, a violência, a rivalidade e a separaçom nom tenhem de ser a lei do mundo… A sociedade contemporânea busca substituir o amor por uma espécie de regime comercial de pura satisfaçom sexual, erótica… Noutros tempos as sociedades clericais e tradicionais procurarom a domesticaçom do amor através do casamento e da família. Hoje esforçam-se numa pornografia livre e de contrato financeiro. No amor aceitamos nos colocar em pares nom para a fusom dos románticos, aliás para admitir de forma apaixonada a diferência do outro. O amor é tudo o contrário do individualismo. O indivíduo passa a ser criativo, quando deixa de ser soberano dos seus próprios interesses. Hoje o mais importante é a fidelidade… Pronuncia-se, pois, em contra da mercadorizaçom e do consumismo.

O capitalismo criou bolsas grandes de miséria sentimental.

Eva Illouz

Istas poucas linhas concentrarám-se na entrevista conduzida por Xavi Ayén (ollhar a referência no arquivo adjunto).

Ocupa-se o livro de Eva Illouz de como nos moldam as instituiçons, de como agem dentro de nós forças sociais que nom vemos ou entendemos. E sinala a contradiçom entre o ideal do amor, que vem de estruturas do passado, e as forças que estám a trabalhar noutra direçom. Também escreve em contra duma psicologia clínica dirigida ao indivíduo para reivindicar o papel duma sociologia orientada aos problemas sociais e as grandes causas coletivas. Indica que os encontros amorosos som um mercado, pois antes ninguém se casou  fora dos preceitos da sua religiom, dos estereotipos, da sua classe social… A desregulaçom, o mesmo que no terreno das mercadorias, é a livre circulaçom de corpos e psiques. Tal é o amor do neoliberalismo e resulta paradoxal que as ideias de Thatcher e Reagan, tam defensores da família tradicional, levem à sua destruiçom. Aponta que os valores defendidos por feministas e homosexuais ao longo do século XX mudam de cara no capitalismo escópico (industrias que usam o olhar para extrair mais-valia doutra pessoa a partir da beleza avaliável do corpo duma mulher). E privilegia-se a desigualdade de partida para utilizar a liberdade sexual em contra das mulheres. Existe uma gramática compartida para tratar as desigualdades no campo laboral, embora nom exista tal para a sexualidade e as relaçons íntimas nas que impera a humilhaçom, a injúria, o sofrimento e o sentimento de invisibilidade social. Hoje o indivíduo é definido polas suas demarcaçons, seu rompimento de compromissos, por uma sociabilidade negativa na que é quem polo que rejeita. No patriarcado tradicional as mulheres desempenham um papel reprodutor ou som prostitutas para dar prazer aos homens, e iste corpo sexualizado integrou-se nas formas atuais de domínio capitalista, mesmo em algumas mulheres com sensaçom de empoderamento, mas, amais da mirada, é necessário o reconhecimento social, emocional e romántico. E a hipersexualizaçom impede isse reconhecimento. Também se ocupa de criticar o ghosting (maneira de romper um relacionamento na era digital ao desaparecer como um fantasma –ghost -: nom responder as mensagens, retirar-se das redes…), os incel (ceives involuntários, subcultura de direita extrema que chama a odiar às mulheres…). E, ao lhe perguntar polo consentimento, di que além do sim ou do nom existe uma área cinzenta onde as mulheres nom querem algo, mas carecem dum repertório adequado para dizer nom sem serem insultadas. Embora o fulcral é que, do mesmo modo que no Capital nom há uma relaçom igualitária e o contrato é mais formal que real e de nom se conformar está-se a morrer de fame, no campo sexual acharia-se um número muito significativo de mulheres que dim sim diante de propostas sexuais que nom desejam.

Está-se a enfrentar o fim do casal como um objetivo vital das mulheres.

Tamara Tenenbaum

Quase fugazmente vai-se a fazer referência às três leituras sugeridas no anexo. Eis.

O livro faz uma análise detalhada das subjetividades nos relacionamentos. Questiona o amor a partir dum lugar muito específico (recomenda-se a leitura do capítulo I “la versión femenina de James Dean”, que termina com istas palavras bem eloquentes: “la mujer que se  descontrola es, para el sentido común, una reventada. Y la reventada, a diferencia del reventado, no es un objeto de deseo: es un objeto de lástima. En el imaginario popular, la rebelde que sí vale, la glamorosa, la sensual, es otra: la que va agarrada de la cintura del pibe de la moto”).

No casal, como objetivo central das mulheres, os outros elos som borrados – amigas, outros vínculos, inserçons comunitárias, trabalhos, participaçons políticas… – numa configuraçom patriarcal. E há que combater isso e nom pensar a solteirice como um estado de infelicidade.

Semelha que os ideais de consumo de hoje subtituirom os ideais morais doutra época. E como feministas há que colocar em circulaçom outros modos de vida e amostrar outras vidas e outras pessoas.

O mercado do desejo está desregulado, mas estám em funcionamento asimetrias entre homens e mulheres, pois as mulheres precarizam as suas próprias vidas para segurar o outro.

Cupido e Psyque

“Cupido e Psyque” Fotografía de Dan Samanek Sketchfab

Montaxe de Isidro Cortízo del Río

Discute o paradigma do consentimeno explícito, que provém de certa cultura legalista norteamericana. Estar legalmente coberto é uma maneira horrível de pensar os vínculos, há sim que nom o som. Nenhum consentimento explícito pode substituir a vontade de nom querer dormir com quem nom quer dormir com vos. Nisse consentimento explícito ficam fora muitas sutilezas…

A cultura da violaçom é sustentada na ideia de que a mulher é um <<nom>> a transformar num <<sim>>.

Indica assim mesmo que as mulheres de classe média têm muita liberdade negada às demais, porque num mundo capitalista ser pobre é uma condena.

Rexeita a lógica da acumulaçom permanente de corpos, desejo e prazer que prima hoje.

E para concluir com algo compartilhado por tudos os três: denunciar e lutar em contra da mercadorizaçom do amor, de mudar o mesmo em consumo, de o introduzir no campo de efémero ao igual que os produtos de usar e tirar, de colocar em tudo uma data de validade, de evitar aposta e compromisso.

Leituras 1, 2 e 3 para fazer memória de quando, há vários anos, se abordou nas Aulas da Biblioteca 

A CONSTRUÇOM CULTURAL DO AMOR NO CAPITALISMO NEOLIBERAL:

  1. Eva Illouz: Por qué duele el amor. Una explicación sociológica.
  2. Erotismo de autoayuda, de Eva Illouz: Mamá, ¿tú ves porno?/Babelia/EL PAÍS/.
  3. “La sexualidad es ineludible: hoy el sexo precede al amor”/Cultura/ EL PAÍS.

Duas leituras para lembrar a ALAIN BADIOU:

  • El amor como experiencia de verdad: de Platón a Badiou/Milena Lozano Nembrot.
  • Elogio ao amor.Resenhado por Alexandre da Costa Pantoja. Alter, Revista de Estudos Psicanalíticos/Vol.31(1/2)-2013/Vol.32(1)-junho de 2014. Livro doado de achar em PDF, tanto em português como em espanhol.

Uma leitura de Matías Novakovich Lefenda:

  • Amor a objetos y consumo de sujetos. “Reflexiones sobre la posibilidad del amor en la época contemporánea”, Universidad de Chile, Enero 2018.

Livro de Eva Illouz em Katz Editores: El fin del amor. Una sociología de las relaciones negativas:

  • Na devandita editora achas: Sobre el autor, Índice, Fragmento, Notas de prensa, Obras del autor e Obras relacionadas.

Entrevista muito relevante com Eva Illouz por Xavi Ayén 

Ler de Benigno Blanco: La época del desamor y las relaciones negativas im https//www.nuevarevista.net/lala-epoca-del-desamor-y-las-relaciones-negativas/.

Entrevista de Laura de Grado Alonso a Tamara Tenenbaum: Estamos ante el fin de la pareja como objetivo vital de las mujeres

Ler de Paula Serra: Si el amor termina, ¿qué empieza? Reseña de <<El fin del amor. Amar y follar en el siglo XXI>> 

Ler, do referido livro de Tamara Tenenbaum em Seix Barral, o capítulo I, titulado La versión femenina de James Dean.

Domingos Antom Garcia Fernandes

Domingos Antom Garcia Fernandes

Profesor de Filosofía

Domingos Antom Garcia Fernandes, nasceu em Hermunde-Pol,  na Terra Chá, a 21 de Janeiro de 1948. Freqüentou dez anos de estudos eclesiásticos no Seminário Diocesano de Lugo. Mestre de Primeiro Ensino pola Escola Normal de Lugo, licenciado e doutor em Filosofia pola USC. Foi professor de EGB e catedrático de Filosofia no Ensino Secundário. Membro fundador da Aula Castelao de Filosofia, da qual foi porta-voz e coordenador e na atualidade Membro de Honra. Foi professor de Antropologia Geral, História da Antropologia e Antropologia Económica na UNED de Ponte Vedra.
Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2011, na docência da matéria de Ética e deontologia da comunicaçom audiovisual. Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2018, na matéria de Sociologia: Sociedade, Cultura e Pensamento. Foi Presidente de Amig@s da Cultura de Ponte Vedra.
Foi professor de Filosofia e de Ética no Graduado Universitário Senior da Universidade de Vigo.
Imparte um curso de Filosofia, de carácter anual, na Biblioteca Pública de Ponte Vedra.
Co-autor de Antom Losada. Teoria e Praxis (1984), Reflexons sobre a vida moral (1995), A Ética na que vives (1995). Coordenador de Para umha Galiza Independente. Ensaios, testemunhos, cronología e documentaçom histórica do independentismo galego (2000). Co-participante en diversas colectâneas.
Participou como relator ou comunicador em numerosos congressos e jornadas com temas como a filosofía marxista, os NMSA, o estatuto e as funçons da Filosofia, a problemática nacional em relaçom com a questom ecológica, et cetera. Colaborou em diferentes jornais e revistas e prologou diversos livros.
Foi colaborador assíduo da publicaçom trimestral Abrente e da Abrente Editora, além de colunista de Primeira Linha em Rede, de Diário Liberdade e de kaosenlared.net.

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