Henrique Alves Costa, O Senhor Cineclube por Manuel Vitorino

Henrique Alves Costa, O Senhor Cineclube por Manuel Vitorino

Henrique Alves Costa, O Senhor Cineclube

Manuel Vitorino

Se fiz coisas importantes, não dei por elas”, disse, ao JN, em 1987, Henrique Alves Costa, entrevista a seis colunas, várias fotos do cinéfilo e cineclubista afável, generoso, um viajante atento ao mundo das imagens, ainda o cinema mudo dava os primeiros passos na Invicta Film; depois, o sonoro, fitas em nitrato, 35mm, projetadas numa cabine tipo “Cinema Paraíso”, antigo  Salão -Jardim Trindade, de mão dada com o pai, seu mentor e inspirador desta fascinante viagem ligada ao Cinema,  à tal “fábrica de emoções” cheia de magia e ilusão.

Henrique Alvés

Conheci o Henrique a meio dos anos 70, no Cineclube do Porto, naquela época uma casa de Resistência e talvez, única Escola de Cinema no Porto, lugar onde várias gerações aprendiam a ver cinema, a discutir uma obra fílmica, o percurso estético de um determinado realizador, seu enquadramento histórico, social e político. E onde podiam consultar livros e revistas na sua fabulosa biblioteca, mais de 5000 publicações ligadas à história do Cinema.  Foi sempre uma das pessoas mais importantes na vida do Clube e sempre mostrou a maior disponibilidade para encontrar soluções nos momentos de maior crise, instabilidade financeira. Nunca perdeu o sorriso, a afabilidade, o “savoir- faire” e, coisa rara, sabedoria de ouvir a opinião dos outros.  Em vez de certezas, dúvidas, inquietações, desejos de mudar e encontrar soluções de futuro. Recordo-o muitos vezes, a ouvir falar sobre alguns filmes históricos, vida e obra de Aurélio Paz dos Reis,  floricultor, republicano, cineasta, Raul de Caldevilla, fundador da Invicta Filmes, Abel Gance, Jean Epstein, vanguardistas franceses, Lang e Murnau, figuras cimeiras do expressionismo alemão, sem contar com alguns dos seus eleitos: Stroheim, Dreyer, Eisenstein, Chaplin, Manoel de Oliveira, seu amigo, cúmplice, admirador.

Um parêntesis para avivar memórias: Manoel de Oliveira esteve várias anos impedido de filmar grandes projectos cinematográficos,  em parte devido à falta de apoios e financiamentos, mas também por ter sido considerado um cineasta mal visto pelo Estado Novo, com a Censura a cortar alguns “atrevimentos” e depois, preso durante 10 dias nos calabouços da PIDE, onde conhece  o escritor Urbano Tavares Rodrigues.

Após o belíssimo “Douro, Faina Fluvial” (1931) segue-se um período em que, apenas, consegue filmar três documentários, “Aniki-Bobó” (1942) “O Pintor e a Cidade” (1956) e “O Acto da Primavera” (1963) e só em 1971, ou seja, 40 anos depois, arranja os meios financeiros necessários para levar por diante a primeira grande obra de ficção, “O Passado e o Presente”.

Douro faina fluvial
o acto da primaver
aniki-bobo
o pasado e o presente de Henrique Alvés
o pintor da cidade

Perante a cegueira do Poder e indiferença generalizada da intelectualidade lisboeta, Henrique Alves Costa lutou pelo reconhecimento da sua obra e fê-lo como pôde: denunciando, escrevendo textos na Imprensa portuguesa e estrangeira, intervindo em palestras, festivais internacionais, encontros de cineclubistas. O resto é conhecido. Depois, Oliveira filmou sem parar até ao final da vida, 106 anos, ainda com três filmes em esboço, prémios e distinções em todo o Mundo –  agraciado em Berlim, Cannes e Veneza -, elogiado e aplaudido lá fora, nem sempre admirado cá dentro. Foi sempre assim e assim será…

Partir do zero

Homem de causas, Henrique Alves Costa envolvia-se facilmente com a arte do cinema, a sua paixão desde criança. Em vez da indiferença típica de uma certa elite bem pensante, crítica no sofá e incapaz dum gesto na resolução dos problemas, o agitador cultural sempre encontrou no Cineclube a sua trincheira e, como poucos, desbravou novos caminhos para o Cinema Português, sempre em crise de financiamento, de mecenas, de apoios à produção, exibição, formação de novos públicos.

Foi assim em 1967, um ano histórico em que por sua iniciativa se organizou a Semana do Cinema Português, fundamental para a discussão dos principais problemas da classe, realizadores, técnicos, operadores de câmara, críticos e cineclubistas à volta da mesma mesa em busca de soluções capazes de darem um novo impulso ao modo de fazer filmes. Sem apoios financeiros – apenas promessas da Gulbenkian, mais tarde concretizadas -, Alves Costa puxou da imaginação e, em colaboração com a Cooperativa Árvore, organizou um leilão de obras de arte, cuja receita serviu para pagar despesas inerentes ao Encontro. Onde existia uma dificuldade, a imaginação impunha-se e contaminava tudo e todos. “Sempre gostei de partir do zero absoluto e pôr as coisas a andar”, disse na entrevista.

Apesar dos “crónicos constrangimentos orçamentais”, o Encontro fez-se, foi um êxito e, três anos depois, em 1970, algumas coisas já tinham mudado, mas o cinema continuava numa encruzilhada. Como a “incerteza não foi debelada” promoveu outro encontro de críticos, realizadores e técnicos. Uma vez mais, a sua mentalidade irrequieta, sonhadora, insubmissa. Em 1976, organizou as Primeiras Conversações Cinematográficas Luso-Espanholas , espécie de cimeira ibérica com diversos realizadores, críticos e jornalistas de ambos os países , ao mesmo tempo que vai escrevendo para jornais e revistas, desdobrando-se em contactos com vista ao aparecimento de novos projectos culturais.

Como “toda a gente tinha vontade de fazer coisas”, um grupo de jovens desloca-se à casa de Henrique Alves Costa, com o propósito de obter o seu apoio ao Cinanima/Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho. Foi em 1977 e, como sempre acontecia, não só incentivou, como escreveu várias crónicas sobre o certame, em diferentes jornais, entre os quais, no JN. Testemunhei o encontro na companhia de alguns amigos, entre os quais,  André de Oliveira e Sousa e alguns elementos da então comissão organizadora, Agostinho Chaves, Eduardo Oliveira e Rui Brás. No final, todos estavam felizes pelo apoio prestado e, uma vez mais, a tal “ideia maluca” deu lugar, anos mais tarde, ao maior festival do género em Portugal. Aliás, na sua casa, espécie de museu, milhares de livros, muita arte, obras da artista Rosa Ramalho à mistura com pinturas, também funcionou como “embaixada cultural”, ponto de encontro de muitos cineastas portugueses, Manoel de Oliveira e António Reis, bem como estrangeiros, Volker Schlondorff e sua esposa Margarethe von Trotta, Jean Rouch, entre muitos outros realizadores, críticos, jornalistas, gente ligada ao mundo do cinema.

“Cenas Tristes”

Em 1977, muita coisa já tinha mudado no país político e também no Cineclube do Porto, eleições bastante polarizadas, duas listas concorrentes, palco de divergências político-partidárias. Cansado de assistir a algumas “cenas tristes”, Alves Costa sente-se agastado e magoado com o ambiente reinante. E decide bater com a porta, chegando a desabafar com os seus amigos mais próximos: “Agora vou brincar com outros meninos”. (1) Sem tempo a perder organizou, no Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), uma série de sessões de cinema com filmes cedidos por embaixadas, instituições internacionais. E nos salões onde estavam pinturas de Silva Porto, Aurélia de Sousa, Marques de Oliveira, Henrique Pousão, o projecionista de serviço (a cargo do meu querido e saudoso amigo António Cerdeira) foram exibidos dezenas de filmes sempre a abarrotar de público interessado, uma das quais, memorável, com filmes de animação do realizador canadiano Norman McLaren.

Antes do filme começar, Alves Costa fazia sempre uma pequena palestra e, em poucos minutos, com o seu conhecimento e poder comunicação conseguiu captar o vasto auditório e explicar com pedagogia a importância do cinema de McLaren. Nestes tempos de grande efervescência cultural, ainda sonhou com a instalação da Cinemateca do Porto, talvez a grande utopia não realizada, por culpa dos sucessivos responsáveis pela pasta da Cultura que, deram sempre o “dito pelo não dito”, faltaram sistematicamente às promessas públicas e o sonho ficou eternamente adiado…

Por entre dezenas de livros editados, entre os quais, “Memória do Cinema Português”, “Eric von Stroheim, Génio Insubmisso de Hollywood”, “Da Lanterna Mágica ao Cinematógrafo”, inúmeras participações em congressos, encontros de cineclubes, textos, reflexões, ensaios em vários jornais e revistas, não resisto em contar mais um episódio da sua eterna juventude e modo de estar na vida. No princípio dos anos 70, em Setembro, no decorrer do célebre Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz, a organização promoveu uma cerimónia de boas-vindas numa unidade hoteleira da cidade. A tarde estava de sol, dezenas de convidados, cineastas nacionais e estrangeiros, críticos, jornalistas.

Memoria do cinema portugues
Eric von stroheim
da linterna magica

No meio da conversa e quando toda a gente estava de copo na mão, Alves Costa diz “até já” ao grupo de amigos e, para espanto, regressou em fato de banho e saltou para a piscina. A assistência bateu palmas e uma vez mais, o puto traquina de cabelos brancos quebrou regras, barreiras, convenções sociais.

O cinéfilo e crítico nasceu com a República, viveu em Ditadura e morreu em Democracia. Tinha 77 anos e ao longo da vida fez coisas realmente muito importantes para o seu tempo, arrojadas num país cercado e policiado, castrador de mentalidades, avesso à modernidade. Repartiu o seu saber por várias instituições, entre as quais a Cooperativa Árvore, aderiu ao grupo fundador do CPC/Cineclube do Porto, com Hipólito Duarte, Fernando Condesso, Guilherme  Gomes Fernandes e Fernando Gonçalves Lavrador,  Manuel de Azevedo, Mário Bonito, Luís Neves Real, Júlio Gesta, entre outros.

Foi um Homem de vanguarda, espírito independente,  muita rebeldia à mistura e enquanto cineclubista recusou sempre alinhamentos político-partidários. Com esta atitude recebeu algumas incompreensões, logo ultrapassadas perante a sua craveira e prestígio internacional. Ao longo dos anos, conciliou a sua actividade profissional, despachante de Alfândega do Porto, com a Cultura, conferências, debates, publicação de ensaios, livros, crónicas de jornal para o Jornal de Notícias, colaborador assíduo da secção Palco (uma página inteira sobre Arte e Cinema, críticas de A. Roma Torres e do jornalista Sérgio de Andrade, então director do JN) onde tanto escrevia sobre crítica de filmes, como crónicas de certames europeus, festivais de Cinema de Animação de Annecy e d´Avignon, onde participava habitualmente como convidado.

Quando partiu deixou um vazio difícil de preencher. Fez tudo o que queria fazer na vida e viveu sempre apaixonado por filmes do outro mundo, “A Paixão de Joana d´Arc”, Dreyer, “A Regra do Jogo”, Renoir; “Lágrimas e Suspiros”, Bergman; “Marcha Nupcial”, Stroheim; “O Mundo a Seus Pés”,  Welles; “Matou”, Lang,  uma lista interminável de títulos da História do Cinema mundial. O Cineclubismo deste país deve-lhe muito e, para mim, foi um exemplo de cidadania e de coragem, um Homem sempre à frente do seu tempo, um construtor de pontes com a cidade, a arte e a cultura. A sua jovialidade e conhecimento da história do cinema continuam a pairar na minha memória afectiva e sentimental.

(1) “Agora vou brincar com outros meninos”
A frase “Agora vou brincar com outros meninos” tem um contexto preciso. Henrique Alves Costa já andava desagradado com a Direção do Cineclube do Porto pelo facto de adiar indefinidamente o registo legal dos novos Estatutos do clube, discutidos e aprovados em sucessivas sessões de uma Assembleia Geral Extraordinária convocada para o efeito. Essas sessões, foram muito valorizadas pelas oportunas e sábias intervenções de Alves Costa e, nos novos Estatutos, consagrava-se uma certa autonomia das secções do Cineclube, bem como, alterações ao processo eleitoral. Embora não assumidamente, a Direção pretendia que as eleições seguintes fossem feitas de acordo com os antigos Estatutos, desprezando assim o imenso trabalho realizado na Assembleia.
Porém, a gota de água que fez transbordar o copo deveu-se ao facto de, após a Direção ter concordado com a realização, no Cineclube do Porto, do II Encontro do Cinema Português (o Primeiro Encontro também lá foi realizado, em 1967, com resultados históricos para o cinema português) ter “dado o dito pelo não dito” seguindo, porventura, uma “orientação superior”, entretanto surgida. Acontece que, Alves Costa já tinha dado a cara pelo Encontro, como intermediário qualificado, perante um conjunto muito significativo de realizadores portugueses que contestavam o controlo partidário em que tinha caído o Instituto Português de Cinema com as suas famosas “unidades de produção” que se pretendiam substituir ao modelo das cooperativas de produção cinematográfica que eles (os cineastas) defendiam.
André de Oliveira e Sousa, Manoel de Oliveira e Alves Costa, encontraram-se com António-Pedro Vasconcelos (que veio propositadamente ao Porto para a preparação do Encontro) e que, face às dificuldades que lhe foram apontadas, disse: “Faremos o Encontro no Porto, nem que seja sentados no chão da Praça da Batalha”.  Felizmente, para os cineastas portugueses, o Cine-Teatro Pinheiro Chagas, nas Caldas da Rainha, abriu-lhes as portas para a realização do tão almejado Encontro que, teve lugar nos dias 27, 28 e 29 de Junho de 1975, com uma representação muito significativa de cinéfilos do Porto, nomeadamente de sócios do Cineclube que lhes tinham fechado as portas. Alves Costa e Manoel de Oliveira também foram e a partir daí, a ruptura aconteceu.
Manuel Vitorino

Manuel Vitorino

Jornalista

Nasceu no Porto (Portugal). Estudou História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui a Pós-Graduação em Direito da Comunicação, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Escreveu durante anos sobre cinema no jornal «O Primeiro de Janeiro» e depois, trabalhou quase 25 anos, no Jornal de Notícias. Depois da cidade, gosta do Futebol Clube do Porto,  mas também de caminhadas (adora o vale do rio Bestança, no Norte do País) e viajar pelo Mundo.
A Galiza é uma região onde gosta sempre de voltar e a Itália o seu destino de eleição. Adora Arte, música clássica, mas também música popular, cinema e ópera, museus, cidades com património. E escrever sobre as cidades, as suas gentes, gastronomia, culturas e tradições.

O Porto visto pela paleta de António Cruz 

máis artigos

♥♥♥ síguenos ♥♥♥

El búfalo cafre y la bravura del toro de lidia por Jesús Sánchez

El búfalo cafre y la bravura del toro de lidia por Jesús Sánchez

EL BÚFALO CAFRE Y LA BRAVURA DEL TORO DE LIDIA

 LA SUERTE SUPREMA.

El Búfalo cafre es, por su actitud agresiva,  el bóvido que más se asemeja al comportamiento del toro de lidia. Su organización social, su alimentación y sus respuestas gremiales son conductas parecidas en todos los animales pertenecientes a ésta familia de mamíferos. Tan sólo hay una respuesta biológica que los diferencia del resto de los bóvidos y que los hace únicos: la bravura. El Búfalo cafre es, junto con el Hipopótamo, el animal que más muertes provoca de seres humanos en África. No obstante, hay una diferencia antropológica que los diferencia y que tiene una base etnográfica singular. El hombre ha conseguido templar la bravura del toro de lidia en una suerte de arte única: la tauromaquia. Esto no ocurre con el Búfalo cafre. No se ha podido, o sabido templar su bravura. Aunque tanto para los jóvenes de las tribus africanas, como para los toreros, coincide en ser una suerte de rito iniciático abatir, matar uno, como muestra de su valor.

El comportamiento depredador es el mismo en ambos casos, tanto en el joven africano, como en el matador. Pero los diferencia la elaboración del rito. De tal manera que la tauromaquia trasciende en arte y requiere de una técnica muy elaborada, mientras que el acecho cazador responde a una habilidad y destreza que requiere de menor elaboración. Lo primero que se hace es separar al búfalo o al toro de la manada, puesto que su comportamiento gregario les hace huidizos. Cuando están solitarios, su instinto agresivo se acrecienta, pues no los cobija la manada y demuestran su bravura y su casta, que no es igual en todos los ejemplares. Por cierto, igual que en los humanos. Por eso se lidian en la plaza y son necesarias todas las suertes para dignificar la bravura del animal, como respuesta al castigo. Exactamente igual a como ocurre en la naturaleza. No todos los Búfalos o Toros responden igual ante el dolor que les provoca un depredador. Pero el matador sublima el rito gracias al arte de la tauromaquia, mientras que el cazador responde a estrategias de acecho no elaboradas.  

Búfalo atacado por leonas
toro dehesa

Pero, hagamos otro símil. El principal depredador del Búfalo cafre, aparte del hombre, es el León. Su estrategia de caza es la misma, separar y atacar, siempre varias leonas a la vez, puesto que una sola es insuficiente para abatir un macho de más de tonelada y media. Por muy desagradable que sea, una de las leonas asfixia al Búfalo, mientras que las otras lo empiezan a devorar vivo. Su muerte no es inmediata y, en muchas ocasiones logran matar o herir de gravedad a los atacantes. Es una respuesta natural entre depredadores y presas.

La tauromaquia, entre otros muchos aspectos culturales, es el arte del acecho a un toro bravo,  para alcanzar la suerte suprema: la muerte del toro bravo.

Está en la genética, tanto del Búfalo, como en la del toro, luchar hasta morir. No se puede ni debe presentar al Toro o al Búfalo como una víctima, sino como un animal noble, que responde de la única manera que la naturaleza le ha determinado, que es atacar y responder ante el dolor con bravura. Esta respuesta es lo que hace único al Toro de Lidia. Esta respuesta lo mitifica.  Por ello tenemos referencias de su comportamiento, no sólo en todas las civilizaciones de nuestra historia, sino también del neolítico. Ha sido un animal venerado. Debemos de estar orgullosos, porque si no es por la tauromaquia hubiese desaparecido y dejaría de serlo.

Por eso es necesario defender la suerte suprema. Porque es la esencia. Es el desenlace necesario de una representación antropológica  de la vida misma. Debemos de estar muy orgullosos de inventar la Tauromaquia, pues es el libreto, a través del cual, sublimamos esta inmensa obra de teatro que es la vida y la muerte a través de la fiesta de los toros.

Por último, deseo defender a los valedores y guardianes de la fiesta taurina, que no son más que el pueblo. En especial, los pueblos de la península Ibérica, América y el sur de Francia. Lugar donde nació y desarrolló etnográficamente la fiesta de los toros y que debemos defender para hacer honor a nuestras raíces. De las cuáles nos sentimos muy orgullosos.

Jesús Sánchez Gómez

Jesús Sánchez Gómez

Profesor de Educación Física

Jesús Sánchez Gómez foi profesor de Educación física en Madrid onde naceu e reside actualmente.

Afeccionado taurino.

Publicou varios libros relacionados co exercicio físico e a saúde e material escolar.

máis artigos

♥♥♥ síguenos ♥♥♥

PONTEVEDRA: RUEIRO RE(de)TALLADO por Peque González

PONTEVEDRA: RUEIRO RE(de)TALLADO por Peque González

PONTEVEDRA: RUEIRO RE(de)TALLADO

2. CONCEPCIÓN ARENAL PONTE

Na rúa da Oliva, no número 27, unha placa recorda que alí viviu Concepción Arenal, dona Concha.

Nada o 31 de xaneiro de 1820 en Ferrol, filla dun militar liberal cántabro e dunha ferrolá. Á morte do pai, a súa familia instalouse no val de Liébana ata o seu traslado a Madrid en 1835, cando Concepción tiña 15 anos. Quince anos e unha inmensa curiosidade por aprender; nos libros descubre a filosofía, a ciencia, as linguas.

plano rua oliva

En 1841, con 21 anos, pelo curto, sombreiro de copa e levita, asiste a clases de Dereito na Universidade madrileña (hoxe a Complutense). Unha vez descuberta a súa condición de muller, enfróntase a un exame que supera con nota, permitíndolle seguir asistindo a clases, separada dos homes, que eran os únicos con dereito a estudar. É, de feito, a primeira muller en asistir a clases na Universidade. Estudou Dereito durante 4 anos e licenciouse sen título.

En 1848 casou con Fernando García Carrasco, con quen estableceu un matrimonio igualitario. Compartiron pensamentos e traballo intelectual. Tiveron tres fillos, dos que só lle sobreviviu un, Fernando, quen, co paso dos anos, traeríaa a Pontevedra. As súas primeiras obras, nos primeiros anos do seu matrimonio son de carácter literario, e en 1855 comeza a publicar artigos no xornal La Iberia, publicacións que cesan coa morte do seu home en 1857, pola imposibilidade de asinar, como muller, artigos en prensa.

Concepción Arenal

Regresa a Cantabria. En 1860, despois de moita controversia, novamente pola  súa condición de muller, outórganlle o premio da Academia de Ciencias Morais e Políticas, polo seu ensaio A Beneficencia, a Filantropía e a Caridade, obra dedicada a Juana de Vega.

En 1864 é nomeada a primeira muller visitadora de cárceres femininos, posto reservado ata ese momento exclusivamente aos homes. O posto é en A Coruña, cidade á que se traslada e na que estreita amizade con Juana de Vega, con quen promove a Asociación “As Madalenas”, para asistir e acompañar ás presas nos termos legais e persoais. É cesada dous anos despois sen mediar explicacións. A publicación do ensaio Cartas aos delincuentes, defendendo a reforma do Código Penal, parece estar nas causas do seu cese. Non é unha muller fácil e acomodaticia para o establecido.

En 1868, co cambio no goberno, é nomeada Inspectora de Casas de Corrección de Mulleres, cargo que ocupa ata 1873. Nestes anos publica varias obras sobre dereitos das mulleres, a educación, o traballo e a dignidade. Funda o xornal A Voz da Caridade.

En 1875 trasládase a Xixón, acompañando desde ese momento a seu fillo Fernando na súa traxectoria laboral. En cada cidade na que viviu mantivo tertulias nas que participa en pé de igualdade cos homes, e continúa escribindo e publicando ensaios arredor do conflito social, penitenciario e o feminismo.

En 1889, o traballo de seu fillo tráea a Pontevedra por uns meses, xa enferma. Aquí, na rúa da Oliva, comparte tertulia con Casto Sampedro, Augusto González Besada e o marqués de Riestra. No ano 1908, o concello de Pontevedra ponlle o seu nome á praza que hoxe aínda o leva. O Museo de Pontevedra é depositario de distintos textos de Concepción Arenal, como obras de teatro e poemas inéditos, xunto con obra artística.

placa na rúa Oliva
Placa conmemorativa na rúa Oliva nº 27 en Pontevedra

O 4 de febreiro de 1893 falece en Vigo, onde está enterrada.

A súa é unha vida centrada na loita por unha sociedade máis xusta e igualitaria, con especial acento en conseguir o acceso da muller a todos os niveis do ensino. Abríu camiño para mellorar a vida nos cárceres. A obra de Marilar Aleixandre, Premio Nacional de Narrativa 2022, As malas mulleres, reivindica a súa figura nun exercicio de memoria histórica.

Atreveuse a entrar, en pleno século XIX, nos dominios do patriarcado. Definila como precursora do feminismo quédase curto. Dona Concha é feminista, sen ambaxes.

lema da escritora
Lema na Plaza de Concepción Arenal en Pontevedra

A información para elaborar esta pequena reseña é emprestada do Consello da Cultura Galega , da Real Academia da Historia, de artigos de prensa e da obra “De mi viejo carnet”, de Prudencio Landín.

Peque González Novoa

Peque González Novoa

Profesora

Son Peque González Nóvoa. Nacín en Pontevedra hai 63 anos, nunha familia das de aquela, “numerosa”. Estudiei Psicoloxía en Santiago e dediquei toda a miña vida laboral á docencia, no ensino público; nos primeiros anos como mestra de infantil e posteriormente como orientadora, ata que hai dous anos decidín pasar a esta etapa chamada xubilación. 

No meu percorrido de vida acostumo a definirme como muller, mestra, nai e avoa, sen orde prevalente, por que considero que son os elementos que conforman quen son.

Achégome a este grupo de xente que tivo a boa idea de poñer en marcha este proxecto “De vella a bella” coa intención de aprender e poder aportar un micrograo de area. Neste contexto no que vivimos, e nesta situación de pandemia, creo que todo o que implique a activación das persoas, sexa cal sexa a súa idade, é positivo. 

Michelena 11: A casa dos calzóns

Sebastián González García-Paz

máis artigos

♥♥♥ síguenos ♥♥♥

De quen son os cruceiros? por Xan M. Pérez Nartallo

De quen son os cruceiros? por Xan M. Pérez Nartallo

De quen son os cruceiros?

Xan M. Pérez Nartallo

“A defensa e salvagarda do patrimonio están determinadas polo feito de que a sociedade coñeza e faga propias as súas realizacións”.

 Faga propias as súas realizacións. O autor desta afirmación advirte sobre que a sociedade non pode permanecer impertérrita ante a desfeita que se está a producir no patrimonio histórico. Senta así unha premisa coa que non podo estar máis de acordo, que o patrimonio é de todas/os, e que a todas/os corresponde a súa recuperación e conservación.

Mais o noso sistema xurídico embebido das ideas romanas  basease en que todo ten un propietario, ou aínda máis, que ten que ter un propietario. E non un propietario calquera, ten que ser un propietario determinable, determinado, concreto.

Antes de continuar que me perdoe o mestre Pepe Álvarez por comezar este artigo cunha frase do seu artigo sobre os cruceiros.

Si, cruceiros, que no país noso non son poderosos barcos de guerra, nin sequera aqueles inmensos transatlánticos que levaron a miles de galegos e galegas a terras do oeste das cales moitas e moitas non volveron xamais. Da migración falaremos noutro momento, que hoxe toca responder á pregunta do título.

Os cruceiros galegos son construcións, de pedra fundamentalmente, que espallados por todo o país cumpren diferentes funcións como ben sinala Pepe no artigo mencionado. Cumpren ou cumprían? Tanto ten, o caso é que están aí.

Cruceiro de Hio

Mais, de quen son? A quen pertencen?

Non é cuestión de enredar aquí cunha lección de historia do dereito, a recepción do dereito romano, as Sete Partidas… sei lá.

Somentes revelaremos se chegaron até aquí que o dereito civil español, ese chamado común, veu derivado/copiado do francés. Era estraño logo? Non necesariamente, só que copiar é máis doado e non da tanto traballo como pensar.

Estes ordenamentos xurídicos baseados no dereito romano teñen como sacrosanta figura a institución da propiedade, fundamentalmente privada. Así todo ten que ser de alguén singularizábel.

Iso casa moi ben, como luva á man, para o sistema económico capitalista no que nacemos, vivimos e morremos.

 Como as cousas se poden complicar tamén coñecemos a propiedade pública. Que é de todos/as? Pois non, é dun ente público. Pero o ente público é de todos/as, creo que non, simplemente (simplemente?) trátase dun suxeito público, un organismo que ten funcións de carácter público, isto é, que non é un particular, mais si é singularizábel.

 Xa se perderon?

Retomen o fío e ollen ao seu redor, todas as cousas que ven teñen propietario ou propietaria. Idea romana, sen máis.

Agora ven o lío, atentos/as. Como galegos/as podemos facelo doutra maneira. A esta idea de propiedade romana (privada e pública) engadimos unha terceira posibilidade, a propiedade colectiva (a propiedade colectiva é volver tolos a estes romanos como nas aventuras do galo Astérix).

Falamos de que as cousas son de todos e non son de ninguén. O mellor exemplo son as comunidades de montes en man común, que xestionan grandes extensións de terra en estado natural para aproveitamentos dos/das compoñentes da comunidade.

Microfilmación
Corresponde á microfilmación realizada polo CECOMi sobre as Respostas Xerais depositadas en Simancas e individualizada polos pobos según o Catastro

E isto que ten que ver cos cruceiros? Os de pedra.

As motivacións para realizar e colocar os cruceiros se perden na noite dos tempos, e independentemente que algúns teñan propietario/a coñecido/a gústame pensar que a maioría foron “cedidos” á comunidade onde se colocaron polos autores (a inmensa maioría descoñecidos) e doadores dos mesmos. Así non existe a posibilidade de saber de quen foron (pasado), e ao atoparse en lugares públicos, comúns, de libre concorrencia e paso propoñemos que sexan considerados segundo a tradición da propiedade colectiva galega como propios do común e por tanto de todos/as sen ser de ninguén.

A única maneira de protexelos do abandono e desaparición é unha regulación específica, e que a comunidade onde estean os faga propios.

Xan M. Pérez Nartallo

Xan M. Pérez Nartallo

Abogado

Nacín en Vilagarcía o 12 de novembro do 1960, onde vivín, e Compostela, Padrón, Pontevedra. Teño vínculos familiares e afectivos con Canabal (Sober), Vilamelle (Pantón) en terras de Lemos, as cidades de A Coruña e Vigo, o porto de Marín, a illa da Graciosa nos Açores e Salvador de Bahia; polo que debo ser un atlante (Estatua con figura de home que se usa como columna e sostén sobre a cabeza ou os ombreiros a parte baixa dunha cornixa ou outro elemento do edificio ou Home de forza descomunal). Aceptarei, por descarte, a primeira definición.

Son licenciado en dereito pola UNED e Master en Administración Local pola USC, e só sei que non sei nada, cousa que infelizmente comprobo todos os días. Como administrativista tamén dou fe da diarrea lexislativa desta póla xurista, palabra que está moi preto da palabra xurro.

A paciencia é unha virtude, podédela practicar comigo.

Campaña polos dereitos cidadáns

máis artigos

♥♥♥ síguenos ♥♥♥

De la manzana a la sidra… por Ricardo de Ponga y Manuel Marrón

De la manzana a la sidra… por Ricardo de Ponga y Manuel Marrón

De la manzana a la sidra, un viaje apasionante

Avanza octubre, y en la cornisa cantábrica las manzanas empiezan a teñirse con su vestido definitivo: rojas, amarillas, verdes, todo un arco iris de colores que decoran los árboles como si fuesen de navidad.

Como hoy llovía, hemos aprovechado la mañana para darle flete, como Dios manda al llagar. La prensa de madera con toda la multitud de tablas que en un momento irán encima de la fruta y que con la ayuda del gato hidráulico irán apisonando la manzana, hasta extraerle la última gota; Los recipientes: cajas y canastos; los toneles, los metálicos, y los definitivos de madera de roble; toda la maquinaria: la mayadora, el refrigerador, la bomba, el gato… Todo bien lavado y desinfectado. Reluciente.

malladora

Por la tarde, en una tregua que dio la lluvia, nos apresuramos a recoger toda la manzana. Siempre se hizo en familia, y siempre se hará. Todos salimos a recoger la ilusión que durante 8 o 9 meses fue creciendo y fuimos mimando.

Con los primeros zamarreos llovía manzanas de los árboles. Luego había que trepar por ellos para recuperar las más adheridas, y, por último, con unas varas largas, golpeamos a las rezagadas. Se llenaban los cestos, se llenaban las cajas, y se iban vertiendo en sacos hasta llenar más de 25. Con las últimas luces tocaba transportarlos hasta el llagar, cuestas y más cuestas, a hombros, en carros, a mano. Exhaustos pero contentos, y agradecidos por tener la cosecha a buen recaudo.

Recolectando
Mallando
Manzanas
Cosecha de manzanas
Echando las manzanas
Echando las manzanas en la trituradora

Las primeras matemáticas dejaban entrever que había sido una buena cosecha. Unos 700 kilos que rindiendo a 0’7 litros por kilo serían unos 500 litros del preciado elemento. Habría sidra para dos años. Recordad que el manzano es un árbol de vecería, un año da bastante fruto y al siguiente se recupera, dando muy poco. Así que la cantidad elaborada tiene que cubrir dos temporadas.

Una buena cena, con un mejor postre, y las aventuras que, de la boca de los mayores tenían embobados a los más jóvenes. Risas y sonrisas que delataban que la jornada había sido bien aprovechada. Planificada la siguiente jornada, solo quedaba retirarse a descansar.

Lagar preparado
Limpio y desinfectado

Trituradora
Echando la manzana
Recogiendo el líquido
Recogiendo el líquido en el duerno

Con las primeras luces, y tras el desayuno, bajamos al llagar, toda la pumarada pasó de los sacos a las cajas, y de aquí, una vez retiradas las picadas, al baño, donde serían lavadas y definitivamente listas para ser mayadas.

Mientras secaban algo, fuimos haciendo crecer el cuadrado de madera, con hasta 5 hileras de tablas, más de un metro de alto, por el metro y medio cuadrado de la base. Colocada encima la máquina que haría pedazos las manzanas, solo quedaba ir vaciando todas las cajas, y repartir por todo el receptáculo la magaya.

Cuando la última manzana cayó y paró el ronroneo de las afiladas cuchillas, pasamos a colocar, por encima de lo triturado una tanda de maderos, los más gruesos, los gochos; y sobre estos listones otros algo más cortos, colocados de tal manera que, a modo de pirámide, traspasaran todo el empuje del gato de 30 toneladas hacia el fruto troceado, haciendo salir las primeras gotas. Al principio tímidas, hasta convertirse en sendos chorros que fueron llenando el duernu donde se recogía el líquido, una y otra vez. Se va traspasando a las cubas, donde se refrigera el mosto, y de aquí a los toneles. Este año se llenaría el más grande, el de 500 litros.

Al principio, sólo zumo de manzana, rojizo y dulce, que poco a poco iba cambiando a más claro, incluso se percibía la primera fermentación. El nivel de azúcar, que se medía por la densidad del líquido resultante, era elevado, excelente, lo cual presagiaba una calidad y una graduación óptimas.

Aquí no se añaden sulfitos, siendo la única química presente, el hecho de quemar dentro del barril unas pastillas de azufre que desinfectarían cualquier rastro de polución. Este tipo de sidra, así elaborada, y sin añadidos, permite degustarla, incluso abundantemente, sin temor al dolor de cabeza del día siguiente.

Descanso das botellas

Definitivamente en el tonel de madera de roble, descansaría durante unos 100 días, donde la magia de la química convertiría los azúcares de la fruta en el alcohol de la bebida. Todo en función de cómo vaya la fermentación: temperatura, bacterias, levaduras, y otras cosillas que obrarían el milagro.

Con el nuevo año, a finales de enero o principios de febrero, en la fiesta de la espicha, se probará cómo está ese caldo. 

Los allí reunidos, entre bocado y bocado, catarán y darán su beneplácito, o no. Y si los técnicos dan su aprobado se procederá al embotellado y encorchado de las típicas botellas verdes oscuras. Y ahí, en las baldas de la bodega, descansarán varios meses, hasta que, llegado el verano, o incluso más, pueda por fin consumirse, abriéndose el barril, con la máxima ilusión, en algún chigre, o en casa, entre familiares y amigos. Levanto mi vaso por todos. ¡Salud!

Vídeo resumen con algunos de los momentos de la elaboración de la sidra. Gijón, Octubre 2023

Ricardo de Ponga

Ricardo de Ponga

Profesor de Educación Física

Ricardo nació y vive en Gijón, ahora ya jubilado le encanta todo tipo de labores del campo y es un maestro panadero.

Elabora la sidra que consume en su hogar.

Le encantan las finanzas y hasta nos dio un curso de como invertir.

En lo profesional, estuvo 35 años como profesor de Educación Física en el IES Padre Feijoo de Gijón.
Además, colaboró como entrenador de balonmano principalmente en tareas de formación tanto en Clubs, como en la Federación Asturiana y Española en los programas de detección de jóvenes talentos.
También dirigió y participó como profesor en la Escuela de Entrenadores del Principado de Asturias.

Manolo Marrón

Manolo Marrón

Profesor de Educación Física

Manolo nació en Estepa, Sevilla donde sigue viviendo.

Le gusta la naturaleza, la música rock de los años 60 y 70 y el ajedrez.

Es fan incondicional de Bob Dylan.

máis artigos

♥♥♥ síguenos ♥♥♥

O conto popular galego por Marcos Seixo Pastor

O conto popular galego por Marcos Seixo Pastor

Introdución

 O conto é un xénero literario difícil de delimitar, pois os seus lindes confúndense en moitas ocasións cos doutros xeitos narrativos como o relato curto ou a novela breve. Caracterízase pola simplicidade no que atinxe a personaxes e asuntos (normalmente posúen un só eixo argumental), así como pola ausencia de digresións e descricións rigorosas.

Cómpre facer unha distinción entre conto popular e conto literario. O primeiro forma parte, ao igual que as coplas populares, refráns, adiviñas…, do caudal cultural dun pobo. É anónimo e de transmisión oral, e precisamente por iso tende a sufrir modificacións e mesmo a presentar diferentes versións.

Canto á estrutura, temos que destacar o uso recorrente de fórmulas temporais e espaciais tópicas (especialmente no inicio e no final), paralelismos, repeticións…

Na Galiza rural o conto sempre tivo unha grande importancia e difusión, especialmente en determinados contextos, como os parladoiros de inverno ao pé da lareira ou na taberna, onde se mesturaban relatos de bandidos, meigas, trasnos, pantasmas, mouros e lobos, e onde non podían faltar referencias á Santa Compaña, que naquelas noites de inverno facía tremer de medo aos mozos máis afoutos das nosas aldeas cando voltaban á casa. Nestas xuntanzas era especialmente celebrada a presencia de determinados veciños que, debido á súa idade e experiencia, coñecían multitude de lendas e historias reais que eles mesmos, co seu enxeño e graza naturais, sabían enfeitar con elementos da súa invención e entoar do xeito máis acaído, demostrando posuír auténticos dotes literarios e escénicos.

Os contos populares contaron desde o séc. XVII con ilustrados e escritores que se encargaron da súa recollida. Os pioneiros foron Perrault en Francia (A bela adormecida, Carapuchiña vermella, Barba azul, O gato con botas, Cincenta…), Grim en Alemaña (Brancaneves, Hansel e Gretel…) e Andersen en Dinamarca (O patiño feo, o soldadiño de chumbo…). En Galiza non topamos coleccións de contos populares ata que, a finais do séc. XIX e comezos do XX, este labor é levado a cabo por escritores como Lugrís Freire, Anxo Vázquez Taboada, Laureano Prieto ou Lois Carré Alvarellos.

Polo que se refire ao conto literario, foi un xénero que tivo e ten un intenso cultivo na literatura galega. No Rexurdimento (séc. XIX) temos o primeiro precedente co Conto gallego de Rosalía, relato cargado de agulla no que a autora padronesa nos mostra o seu dominio das técnicas da literatura popular. Outros autores do século XIX que cultivaron o xénero foron Benito Losada, Carré Aldao, Lamas Carbajal…

Neira Vilas

Neira Vilas

Anxel Fole

Ánxel Fole

Alvaro Cunqueiro

Álvaro Cunqueiro

Manuel Lugrís Freire

Manuel Lugrís Freire

No séc. XX os escritores do Grupo Nós, e en xeral os autores do tempo das Irmandades da Fala, comezarán a acomodar a nosa literatura ás tendencias europeas do seu tempo, e lograrán que o conto, ao igual que o resto da narrativa, atinxa un lugar senlleiro nas nosas letras. Cabería salientar obras como O lobo da xente de Vicente Risco, Contos do camiño e da rúa de Otero Pedrayo, Contos de Nadal de Cotarelo Valledor, Retrincos de Castelao, Dos arquivos do trasno de Rafael Dieste, Contiños da terra de Manuel García Barros…

Coa Guerra Civil o conto literario, ao igual que o resto da literatura en galego, entra nun período de silencio que non racha até a década dos 50 coa edición de obras como: Entre a vendima e a castañeira de Otero Pedayo, Os biosbardos de Blanco Amor, A lus do candil de Ánxel Fole…

Os escritores do movemento chamado Nova Narrativa Galega comezarán a aplicar ao xénero novas tendencias experimentais, dando cabida nos seus relatos a influencias diversas como a do Nouveau Roman francés ou de narradores como Kafka e Faulkner. Os seus membros máis significativos son Méndez Ferrín, con obras como O crepúsculo e as formigas e Pércival e outras historias, Carlos Casares con Vento ferido e Neira Vilas con Xente no rodicio

Espazo aparte merece Álvaro Cunqueiro, que soubo misturar con mestría realidade e ficción, e que en contos como os recollidos en Os outros feirantes, soubo entender e reflectir como ninguén a esencia do conto popular galego.

Contos galegos
Contos
Contiños da terra
o patiño feo

Dúas mostras de conto popular

 Imos reproducir aquí dous curiosos relatos que recollemos no Caeiro, parroquia de Arcos de Furcos (Cuntis), nos que se pon de manifesto a vea humorística e enredante propia do xénero. A nós chegounos un relato moi simple e sen ningún tipo de elaboración, polo que tivemos que levar a cabo unha redacción propia e idear algúns personaxes, lugares e mesmo feitos, pois só se conservaba unha feble lembranza da anécdota central.

Juan de Juanes

 Xa hai moito tempo había un vello crego na parroquia de Troáns, no concello de Cuntis, máis coñecido pola súa mesquindade que polas súas calidades humanas. Era pola Coresma, e a caixa de caudais da reitoral estaba ateigada de cartos procedentes do cobro das bulas, que algunhas familias podentes pagaran para eludir a prohibición de comer carne.

Chegou un día en que o cura, a pesar da obsesión que tiña por contar os cartos todas as noites antes de deitarse, coidando que o diñeiro non estaba demasiado seguro na casa, resolveu que conviría levalo o antes posíbel para Compostela. O sancristán da parroquia, Bieito do Folgar, alertou ao señor cura da presencia na zona de Vea dun grupo de bandoleiros liderados por un sonado bandido asturiano coñecido como O Fabián. A pesar da insistencia de Bieito de levar o diñeiro nun coche de cabalos, o crego xulgou máis discreto e económico que un pequeno grupo de veciños os levasen a pé aquela mesma noite.

Seis homes saíron a iso da media noite. Dous deles eran da Hervés, un da Sobrada e o resto de San Ildefonso. O que levaba o fardo era un tal Xan García, un home honrado e íntegro, moi respectado en toda a bisbarra.

Despois dun bo percorrido, cando xa estaban chegando á Ramallosa, viron achegarse ao lonxe a dous homes de hábito, e pensaron que serían romeiros de regreso á súa terra. Cando chegaron a onda eles, o máis vello, un home de barba branca e un pouco rubio de cara, faloulles deste xeito:

-Boas noites, meus señores, desculpen que os interrompa pro importaríalles dicirme a onde se dirixen nunha noitiña tan fresca?

-Por suposto que non. Somos veciños da parroquia de Troáns, aló en Cuntis, e imos a Santiago por encarga do noso abade, a levar o diñeiro das bulas –respondeu Xan confiadamente.

-Home, pois precisamente eu son Carlos Bernal, cóengo do Bispado de Santiago, e este home que me acompaña é persoa de confianza da nosa institución. O propio bispo mandou que viñésemos ao seu encontro e que nós mesmos levásemos, como é costume, eses cartiños tan precisos para a causa cristiá.

Ao escoitar Xan ao bondadoso vello non dubidou un instante.

-Tomen, pois, señores os cartos que máis seguros estarán nas súas mans, e ademais así aforraremos un bo treito de camiño. Mais supoño que me darán vostedes algún tipo de recibo, pois o noso crego é home moi severo para estas cousas das contas.

-Non faltaría máis – dixo o tal Bernal- Por certo, sabe algún de vostedes ler?

-Non, señor.

-Cada ves millor -respondeu Bernal de xeito pícaro -E como se chama vostede? – dixo, collendo un papel e facendo nel un apuntamento.

-Chámome Xan García. Son home de moita sona na miña terra, como tamén o foi  meu pai e mais meu avó, que tamén levaban o mesmo nome. Saiba que aló en Troáns pode contar comigo para todo aquilo que precise…

Xan colleu a nota e regresou camiño de Troáns coa satisfacción do deber cumprido. Ao chegar á reitoral e contarllo todo ao abade, este,  encarnado de ira, púxose a berrar como se toleara.

-Que fixeches, papán? Se eu non tiña avisado a ninguén en Santiago de que iades aló! Déixame acó ese recibo!

O crego caeu ao chan esvaecido cando leu o papel, que dicía: “Juan de Juanes, de la parroquia de Troanes, dió el dinero de las bulas a dos malandranes.”

Juan de juanes

O reparto das troitas

 Isto sucedeu haberá uns setenta anos na aldea cuntiense de Vilar de Mato. Aló vivían dous curmáns, Eladio e Emilio, que a pesar de que eran moi distintos e de que sempre andaban a rifar, estaban sempre xuntos como se fosen uña e carne. O Eladio era o máis vello dos dous e, aínda que non era ben listo, tiña habilidades innatas para a arte da pesca.

Foi o caso que un día Emilio propúxolle ao seu parente ir botar unhas canadas ao Comeixe, e acordaron repartir a pesca a partes iguais ao final da xornada. Tal como era de esperar Eladio colleu moitas máis pezas que o seu curmán.

 Pero un trato é un trato. Para facer o reparto apuntouse axiña Emilio, que fora un par de anos á escola e sabía algo de cálculos.

-Unha pra min, outra pra ti e outra pra min… –contaba o máis novo en voz alta.

-Unha pra min, outra pra ti e outra pra min; unha pra min, outra pra ti e outra pra min…

E así até partillar coa súa peculiar pillaría un total de cincuenta e oito peixes. Ao rematar, mirando Eladio para un e outro monte de troitas, e ficando pampo ao ver que a parte do seu curmán avultaba ao menos o dobre da súa, dixo abraiado:

-Manda carallo, Milio!, se non chas vise contar pensaba que me enghanabas.

o reparto das troitas

Bibliografía:

CARVALHO CALERO, Ricardo, Historia da literatura galega contemporánea, ed. Galaxia (Vigo, 1975).

Fontes orais: Xoán Touriño Ferro

Ilustracións dos contos: Isidro Cortizo del Río

 

Marcos Seixo Pastor

Marcos Seixo Pastor

Profesor de Galego

Chámome Marcos Seixo. Aínda que a miña chegada ao mundo tivo lugar en 1959 na rúa de San Marcos en Lugo, na casa da miña avoa, fun concibido e criado en Navia de Suarna, onde pasei unha feliz infancia e a onde regreso cando menos dúas ou tres veces ao ano. Por mor da profesión do meu pai, estivemos vivindo en distintos concellos. Asentámonos finalmente en Cuntis (Pontevedra), onde vivo a día de hoxe na aldea de Castrolandín.

Fixen estudos de Filoloxía en Compostela e os últimos 16 anos fun profesor do IES Valle Inclán de Pontevedra, até a miña “xubilación forzosa por incapacidade” no ano 2016. Neste instituto coñecín aos compañeiros do grupo de teatro Argallada, algúns deles impulsores do blog devellabella, no que ando a colaborar con algún traballo.

A miña vida na actualidade segue a ser bastante activa, pois podo dedicar o tempo ás miñas moitas afeccións, entre elas escribir. Alén diso tamén son afeccionado á música tradicional, ás motos, sobre todo ás clásicas, a coidar as viñas, e tamén a nadar, podendo ser, no río de Navia

Blog

Fernández del Riego no río do tempo

máis artigos

♥♥♥ síguenos ♥♥♥