Contra a sacralizaçom da democracia...
Domingos Antom Garcia FernandesPedro Schwartz Girón, académico da Real Academia de Ciencias Morales y Políticas e Catedrático Rafael del Pino na Universidade Camilo José Cela, que foi presidente da Mont Pèlerin Society, escreve: “La democracia liberal es, después de todo, una manera un tanto absurda de organizar la sociedad. ¿Cómo es eso de que si perdemos una elección debemos dejar el poder?”.
Marx e Engels pensavam que a república democrática burguesa civiliza as formas de luta política, substitui a guerra civil e a luta de rua pola luta eleitoral e polo debate público e é a última forma de estado da sociedade burguesa. Mesmo valorizavam a participaçom proletária nos espaços democráticos tradicionais, embora nunca abandonaram, nos escritos pós-1850, a crítica às “ilusons democráticas” vinculadas aos interesses burgueses.
Em sua última entrevista, em 1978, Nikos Poulantzas dizia: “O Estado está presente na propria constituiçom das relaçons de produçom, e nom somente em sua reproduçom como sustentará Althusser em seu artigo ‘Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado’ (…) Há que ter em conta a funçom económica de Estado em sua materialidade específica, seu papel declarado de organizador político da burguesia (…), tudos os seus procedimentos e técnicas de poder disciplinares e normalizadores.

Assinala Miriam Qarmat em Contra la democracia: “El ciclo histórico de la democracia coincide con el de la mercancía y por lo tanto con el individuo. Se desarrolla con el mercado y morirá con él”. Para o anarquismo a democracia nom é outra cousa que um despotismo das maiorias, a primazia do número em detrimento da esfera individual.
A democracia deliberativa em Jürgen Habermas está intimamente ligada à opiniom pública e à açom comunicativa em um “estado democrático de direito” e implica vivir polo poder da razom, o único privilégio que os indivíduos reconhecem uns aos outros e que supera qualquer outro, como o dinheiro e a burocracia.
No horizonte do materialismo filosófico de Gustavo Bueno e sua denúncia do fundamentalismo democrático, sinala-se que aparentemente os déficits da democracia semelham resolver-se com mais democracia. Para o fundamentalismo democrático toda alternativa à democracia é má por definiçom. O fundamentalismo democrático sacraliza a democracia parlamentar e nom tolera formas de sociedades políticas que nom sejam democráticas. Se as democracias existentes som deficitárias, haverá que colocar isse déficit na realidade empírica sem questionar a democracia. Cogita que a atual democracia espanhola fede, pois está em questom a destruiçom da naçom e acompanha-se do que, em palavras de Marx, seria um cretinismo parlamentar. O fundamentalismo democrático dessacraliza Deus e sacraliza a democracia (produz-se uma inversom teológica e o Reino da Graça transmuta-se no Reino da Cultura). Hoje nom declarar-se demócrata é tam escandaloso como nom se confessar cristão na Idade Média. Tudo o que nom é democrático é considerado ditadura residual. Há um antes e um depois da democracia, a democracia parlamentar seria a forma mais perfeita de sociedade política, e tuda sociedade nom democrática seria arcaica e retardada. E a essência da democracia seria a liberdade, a liberdade de consumir em um mercado fervilhante e de votar dentro dum sistema fervilhante de partidos políticos. Há muitas classes de democracia: popular, liberal, orgánica, coroada, republicana, corporativista, et cetera. E Lenine perguntava-se para que classe.

Domingos Antom Garcia Fernandes
Profesor de Filosofía
Domingos Antom Garcia Fernandes, nasceu em Hermunde-Pol, na Terra Chá, a 21 de Janeiro de 1948. Freqüentou dez anos de estudos eclesiásticos no Seminário Diocesano de Lugo. Mestre de Primeiro Ensino pola Escola Normal de Lugo, licenciado e doutor em Filosofia pola USC. Foi professor de EGB e catedrático de Filosofia no Ensino Secundário. Membro fundador da Aula Castelao de Filosofia, da qual foi porta-voz e coordenador e na atualidade Membro de Honra. Foi professor de Antropologia Geral, História da Antropologia e Antropologia Económica na UNED de Ponte Vedra.
Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2011, na docência da matéria de Ética e deontologia da comunicaçom audiovisual. Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2018, na matéria de Sociologia: Sociedade, Cultura e Pensamento. Foi Presidente de Amig@s da Cultura de Ponte Vedra.
Foi professor de Filosofia e de Ética no Graduado Universitário Senior da Universidade de Vigo.
Imparte um curso de Filosofia, de carácter anual, na Biblioteca Pública de Ponte Vedra.
Co-autor de Antom Losada. Teoria e Praxis (1984), Reflexons sobre a vida moral (1995), A Ética na que vives (1995). Coordenador de Para umha Galiza Independente. Ensaios, testemunhos, cronología e documentaçom histórica do independentismo galego (2000). Co-participante en diversas colectâneas.
Participou como relator ou comunicador em numerosos congressos e jornadas com temas como a filosofía marxista, os NMSA, o estatuto e as funçons da Filosofia, a problemática nacional em relaçom com a questom ecológica, et cetera. Colaborou em diferentes jornais e revistas e prologou diversos livros.
Foi colaborador assíduo da publicaçom trimestral Abrente e da Abrente Editora, além de colunista de Primeira Linha em Rede, de Diário Liberdade e de kaosenlared.net.
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