Nom é a consciência dos homens ...

Domingos Antom Garcia Fernandes

Nom é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência.

Numa conferência pronunciada em outubro, no Ateneu de Ponte-Vedra, a respeito de Conhecimento e Verdade, analisei a pós-verdade ou mentira emocional que envolve distorcer a realidade ao priorizar emoçons e crenças pessoais por cima dos dados objetivos; também tratei de três materialismos – o histórico, o cultural de Marvin Harris, e o filosófico de Gustavo Bueno -; outrossim fiz uma breve referência aos idealismos com especial atençom ao transcendental de Immanuel Kant; bem assim discorrí sobre o relativismo exemplificado em Protágoras e no pós-modernismo; e concluí cuma fugaz alusom ao cepticismo em duas de suas variedades, a sistemática e a metódica (a primeira duvida de tudo, enquanto a metódica ou moderada emprega a dúvida para comprovar as novas ideias).

E agora vou discorrer concisamente sobre o referido em relaçom ao materialismo histórico. E nada milhor que transcrever o frequentado texto de Karl Marx de Para a Crítica da Economia Política (Janeiro de 1859):

“Na produçom social da sua vida os homens entram em determinadas relaçons, necessárias, independentes da sua vontade, relaçons de produçom que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade distas relaçons de produçom forma a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social. O modo de produçom da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Nom é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência.”

Consciencia

Para tornar mais explícito o anterior presentei um organograma sobre <<modo de produçom>> em que se distinguiam infraestrutura e superestrutura. A primeira estaria integrada polas forças produtivas (força de trabalho, matérias primas, matérias subsidiárias, instrumentos de trabalho, estradas, edifícios, terrenos…) e as relaçons de produçom (económicas e sociais). A segunda seria formada polo nível jurídico-político (forma de Estado, relaçons jurídicas e relaçons de propriedade) e polo ideológico (formas de consciência, ideias jurídicas, políticas, artísticas, religiosas, filosóficas, et cetera). E a relaçom entre a infraestrutura e a superestrutura era marcada cuma flecha contínua e o processo inverso cuma flecha quebrada para indicar que a superestrutura igualmente, embora em menor grau, afeta a infraestrutura.

E para tornar o acima mais claro e matizado vou escrever um fragmento menos conhecido, mas de extrema relevância. Niste caso o fragmento é de Friedrich Engels duma Carta para Joseph Bloch (21-22 de Setembro de 1890):

“De acordo com a concepçom materialista da história, o elemento determinante final na história é a produçom e reproduçom da vida real. Mais do que isso, nem eu e nem Marx jamais afirmamos. Assim, se alguém distorce isto afirmando que o fator económico é o único determinante, ele transforma ista proposiçom em algo abstrato, sem sentido e numa frase vazia. As condiçons económicas som a infraestrutura, a base, mas vários outros vetores da superestrutura (formas políticas da luta de classes e seus resultados, a saber, constituiçons estabelecidas pola classe vitoriosa após a batalha, etc., formas jurídicas e mesmo reflexos distas lutas nas cabeças dos participantes, como teorias políticas, jurídicas ou filosóficas, concepçons religiosas e seus posteriores desenvolvimentos em sistemas de dogmas) também exercitam sua influência no curso das lutas históricas e, em muitos casos, preponderam na determinaçom de sua forma. Há uma interaçom entre tudos istes vetores entre os quais há um sem número de acidentes (isto é, cousas e eventos de conexom tam remota, ou mesmo impossível, de provar que podemos os tomar como nom-existentes ou os negligenciar em nossa análise), mas que o movimento económico se assenta finalmente como necessário (…) Em segundo lugar, a história é feita de maneira que o resultado final sempre surge da conflitante relaçom entre muitas vontades individuais, cada qual distas vontades feita em condiçons particulares de vida. Portanto, é a intersecçom de numerosas forças, uma série infinita de paralelogramos de forças, que resulta em um dado evento histórico (…) Cada vontade individual é obstruída por outra vontade individual e o que emerge é uma vontade final nom antecipada polas singularidades envolvidas (…) O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte é o mais excelente exemplo da aplicaçom dista teoria (…) Também devo indicar alguns de meus escritos : Herr Eugen Duhring’s Revoluçom na Ciência e Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia alemã clássica, nistas obras eu dei, até onde sei, a mais detalhada explicaçom sobre o materialismo histórico que é possível encontrar.”

Ler calmamente a carta na íntegra e anotar cuidadosamente tudas as nuances é uma forma de nom simplificar o materialismo histórico.

Domingos Antom Garcia Fernandes

Domingos Antom Garcia Fernandes

Profesor de Filosofía

Domingos Antom Garcia Fernandes, nasceu em Hermunde-Pol,  na Terra Chá, a 21 de Janeiro de 1948. Freqüentou dez anos de estudos eclesiásticos no Seminário Diocesano de Lugo. Mestre de Primeiro Ensino pola Escola Normal de Lugo, licenciado e doutor em Filosofia pola USC. Foi professor de EGB e catedrático de Filosofia no Ensino Secundário. Membro fundador da Aula Castelao de Filosofia, da qual foi porta-voz e coordenador e na atualidade Membro de Honra. Foi professor de Antropologia Geral, História da Antropologia e Antropologia Económica na UNED de Ponte Vedra.
Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2011, na docência da matéria de Ética e deontologia da comunicaçom audiovisual. Foi professor convidado na Universidade de Vigo, em 2018, na matéria de Sociologia: Sociedade, Cultura e Pensamento. Foi Presidente de Amig@s da Cultura de Ponte Vedra.
Foi professor de Filosofia e de Ética no Graduado Universitário Senior da Universidade de Vigo.
Imparte um curso de Filosofia, de carácter anual, na Biblioteca Pública de Ponte Vedra.
Co-autor de Antom Losada. Teoria e Praxis (1984), Reflexons sobre a vida moral (1995), A Ética na que vives (1995). Coordenador de Para umha Galiza Independente. Ensaios, testemunhos, cronología e documentaçom histórica do independentismo galego (2000). Co-participante en diversas colectâneas.
Participou como relator ou comunicador em numerosos congressos e jornadas com temas como a filosofía marxista, os NMSA, o estatuto e as funçons da Filosofia, a problemática nacional em relaçom com a questom ecológica, et cetera. Colaborou em diferentes jornais e revistas e prologou diversos livros.
Foi colaborador assíduo da publicaçom trimestral Abrente e da Abrente Editora, além de colunista de Primeira Linha em Rede, de Diário Liberdade e de kaosenlared.net.

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