OS CRAVOS DE ABRIL

 Em Memória de CELESTE CAEIRO

 Celeste Caeiro nasceu a 2 de Maio de 1933 na antiga freguesia do Socorro, em Lisboa. Filha de mãe galega, era a mais nova de três irmãos e quase não conheceu o pai, que os abandonou.

Tinha família na Amareleja, que nos anos finais do Estado Novo era considerada “a aldeia mais vermelha de Portugal”.

Em 1974 Celeste Caeiro tinha 40 anos e vivia num quarto que alugara no Chiado, tendo a seu cargo a mãe e uma filha, sem a ajuda do antigo companheiro que a deixara.

 Trabalhava na limpeza de um restaurante de self-service chamado “Sir”, no edifício Franjinhas da Rua Braamcamp, em Lisboa.

O restaurante, inaugurado a 25 de Abril de 1973, fazia um ano de abertura nesse dia glorioso de 25 de Abril de 1974,  em que se restaurou a Liberdade em Portugal.

A gerência planeava oferecer cravos às senhoras clientes, e um cálice do famoso vinho do Porto, aos cavalheiros.

Celeste

Nesse dia, todavia, como estava a decorrer um “golpe de estado”, na capital, o restaurante não abriu.

A gerente disse aos funcionários para voltarem para casa, e deu- lhes os cravos para levarem consigo, já que não poderiam ser distribuídos pelas clientes.

Cada um levou um molho de cravos vermelhos e brancos que se encontravam no armazém.

Ao regressar a casa, Celeste apanhou o metro para o Rossio e dirigiu-se ao Chiado, onde se deparou imediatamente com os tanques dos Capitães revolucionários.

Aproximando-se de um dos tanques, perguntou o que se passava.

Um soldado respondeu-lhe:

“Nós vamos para o Carmo para deter Marcelo Caetano. Isto é uma revolução!”.

O soldado pediu-lhe, ainda, um cigarro.

Celeste não tinha nenhum, pois não fumava. Manifestou desejo de querer comprar qualquer coisa para ele comer.

Celeste dos cravos

Mas, as lojas estavam todas fechadas.

Assim, deu-lhe a única coisa que tinha para dar; um cravo do molho, dizendo:

 “Se quiser, tome! Um cravo oferece-se a qualquer pessoa”.

O soldado aceitou e pôs a flor no cano da espingarda.

Celeste foi dando cravos aos soldados que ia encontrando, desde o Chiado até ao pé da Igreja dos Mártires.

Depois deste seu gesto, Celeste foi chamada, ”Celeste dos cravos”.

A 25 de agosto de 1988 perdeu todos os seus pertences quando o apartamento que alugou no edifício dos Armazéns do Chiado foi destruído por um grande incêndio na zona.

 Morou com uma pensão de 370 euros, numa pequena casa, a poucos metros da Avenida da Liberdade, pobremente.

Celeste morreu o dia 15 de novembro de 2024, com 91 anos.

Merece o nosso carinho e o respeito do Portugal Democrático que nunca lhe agradeceu a “REVOLUÇÃO DOS CRAVOS”, a que deu o nome. Paz à sua alma!

Graça Foles Amiguinho

Graça Foles Amiguinho

Colaboradora Portuguesa

“Son Maria de Graça Foles Amiguinho Barros. Vivo en Vila nova de Gaia, pero nascín no Alentejo, nunha aldeia pequena chamada A Flor do Alto Alentejo.

Estudei en Elva. Fiz maxisterio en Portoalegre. Minha vida foi adicada ao ensino durante 32 anos, aos meus alumnos ensineilles a amar as letras, o país, as artes e a cultura. 

Meu começo coa poesia aconteceu de xeito dramático cando partin os dous braços, en 2004 comecei a escribir poesia compulsivamente, en 2005 xa tiña o primero libro editado  O meu sentir…”

Vamos ao baile da Pinha

máis artigos

♥♥♥ síguenos ♥♥♥