Guardada na nossa memória colectiva, a “ronca” é associada aos mais doces momentos vividos na nossa vida nas aldeias do nosso Alentejo.

E é com imensa alegria que podemos dizer que é genuinamente portuguesa.

Instrumento de fabrico artesanal, acessível aos antigos pastores, porqueiros ou caçadores, pois na sua confecção é apenas necessário um recipiente oco tal como uma lata ou cantarinha de barro, uma pele de cabra, borrego, coelho ou até mesmo uma bexiga de porco, tudo serve para nela se enrolar uma cana ao meio, bem esticada a pele e amarrada ao bocal da peça.

As nossas cantigas ao Menino na Noite de Natal, à volta do madeiro fumegando na grande chaminé, tinham mais força e encanto acompanhadas com o toque da ronca.

Processo de produção das Roncas.

Este instrumento musical chama-se «membrafone friccionado». Todos sabemos que quem o toca tem que molhar a cana com um pano húmido ou cuspir na mão como o faziam os nossos antepassados.

O som obtido, movimentando a cana de cima para baixo de forma a friccionar a pele, é algo muito alentejano.

Cantar dolente e sentido, vozes fortes e bem timbradas ecoavam nas noites gélidas de Janeiro pelas ruas das nossas aldeias do Alto Alentejo celebrando a festa dos Reis.

Nunca me passou pela ideia de onde vinha este nome, qual o seu significado. Fiquei surpreendida e como achei graça, aqui vos deixo a informação.

A “ronca” também se pode denominar “sarronca ou farronca”

“Farronca, sarronca ou ronca” é um «ser» da mitologia infantil portuguesa.

Semelhante ao «bicho-papão» é um ser comedor de crianças desobedientes, mal-mandadas e que vão para onde os pais não as deixam ir por serem perigosos. Então, se a criança se porta mal, a «farronca» esconde-se nesses lugares e espera as crianças desobedientes. Esse «ser» punidor não tem imagem, é apenas um som assustador.

São apenas coisas que se contam.

Como instrumento musical tem ainda outras denominações: roncador, tambor-onça, porca, quica adufe, omelê.

Este lindo Canto ao Deus Menino, característico de Campo Maior, “Ó meu Menino Jesus” é um dos mais antigos que a minha Mãe me ensinou e que jamais esqueci por faz parte de uma tradição que não podemos de forma alguma deixar morrer.

Oiça com o coração e recordará os seus tempos de criança.

Graça Foles Amiguinho

Graça Foles Amiguinho

Colaboradora Portuguesa

“Son Maria de Graça Foles Amiguinho Barros. Vivo en Vila nova de Gaia, pero nascín no Alentejo, nunha aldeia pequena chamada A Flor do Alto Alentejo.

Estudei en Elva. Fiz maxisterio en Portoalegre. Minha vida foi adicada ao ensino durante 32 anos, aos meus alumnos ensineilles a amar as letras, o país, as artes e a cultura. 

Meu começo coa poesia aconteceu de xeito dramático cando partin os dous braços, en 2004 comecei a escribir poesia compulsivamente, en 2005 xa tiña o primero libro editado  O meu sentir…”

Um passeio pola cidade do Porto

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